quarta-feira, 18 de maio de 2011

O sentido dos sonhos e seus limites de interpretabilidade

Há muito tempo os sonhos vêm intrigando as pessoas desde os tempos antigos, no mundo inteiro. Existem relatos históricos da criação de métodos de estudo e interpretação dos sonhos. Mas foi com Freud, em 1901, na Áustria, que os sonhos (nossas produções psíquicas inconscientes) ganharam um caráter diferente e inovador. Isso aconteceu por motivo da publicação do seu livro: “A Interpretação dos Sonhos”.
Freud propôs uma técnica genuína, que utiliza o sonho, como uma ferramenta para ajudar no tratamento dos conflitos psíquicos. Depois deste avanço da Psicanálise, os sonhos deixaram de ser relacionados aos significados generalizados. Ou seja, antes, os sonhos eram interpretados como coisas gerais, possuindo um mesmo valor conforme o conteúdo sonhado. Sonhou-se com um assunto, então o significado é tal. Sonhou com aquilo, então o significado é outro.
Atualmente, por um resto de herança dos métodos antigos, muitos ainda defendem a idéia de um código fixo que traduza os sonhos. Isso para a Psicanálise é um erro terrível, e a rigor, não diz nada, pois, conteúdos de sonhos, por mais que se enquadrem em temas iguais, nunca possuem um mesmo sentido em pessoas diferentes. Cada sonho tem um sentido, que só o próprio sonhador poderá construir! A interpretação deve partir do próprio sonhador, que em alguns momentos, precisa de apontamentos do psicanalista para conseguir caminhar um pouco mais no tratamento.
Mas então, o que são os sonhos? Aquela confusão de imagens e sons que não sabemos explicar?
Quando estamos dormindo, a nossa censura fica menos rígida, nossa consciência civilizada diminui, e então produzimos imagens, sons e sensações livremente.
O sonho é um dos modos que o inconsciente encontra para se expressar. Um sonho é uma manifestação do inconsciente presente em cada um de nós, e que se organiza de forma única e particular, conforme cada pessoa.
Em tratamento psicanalítico, os sonhos podem trazer as chaves que abrem os caminhos para o sucesso do paciente. Mas devo alertar, que um sonho não pode ser interpretado de forma isolada. O sonho é mais uma peça a ser colocada no quebra-cabeça que se monta aos poucos nas sessões. Peças importantíssimas que nos dão abertura para encaixar outras peças, e assim tentarmos atingir a raiz do problema.
Vale lembrar que os sonhos possuem limites de interpretabilidade, pois o psiquismo, em momentos de autodefesa, impede o sonhador de ter contato com seus conteúdos inconscientes, quando acorda. Além disso, existe o que Freud chamou de “umbigo do sonho”, isto é, um ponto intocável e inabordável, não simbolizado e obscuro. É comum uma pessoa dizer que sonhou, mas que não se lembra do conteúdo do sonho. São conteúdos ricos à condução do tratamento, mas ao mesmo tempo, causam espanto, e, por isso mesmo, a mente trata de os esquecer.
Não é por acaso que o francês Jacques Lacan (psicanalista freudiano), certa vez disse: “acordamos para continuar dormindo”.
Ora, acordamos para ficarmos longe das nossas verdades inconscientes... Longe dos nossos sonhos, e assim, continuarmos nos enganando na consciência.