Onde está o pai? Esta é uma pergunta que
muitos se fazem, não somente com relação aos problemas que as crianças e
adolescentes nos apresentam, mas é uma pergunta que fazemos também diante do
modo como a época atual funciona. Tudo parece não ter lei, não ter limites, não
ter os “nãos” necessários de cada dia. Tudo parece não ter a presença da
regulação, da moral, do corte no excesso, da contenção, coisas que no fundo,
são reflexos do que a psicanálise entende por “função paterna”.
Muito além do que é um pai biológico, a
função paterna é algo que exerce influencia direta no modo como uma pessoa, uma
empresa, uma escola ou uma família funcionam. É a função paterna que organiza,
concede limite, promove o corte nos excessos, direciona e estabiliza. Tal
função não é exclusiva do pai biológico, pois muitas mães, ou outras pessoas,
exercem essa função na família, no trabalho e na escola. Não basta ter pai, é
preciso existir a função paterna. E isso faz toda diferença no crescimento de uma
criança.
Estamos todos órfãos de função paterna. Sem
as contenções do pai, nós seremos apenas meros consumidores desorientados. Não
é por acaso que hoje percebemos o grande crescimento dos usos de drogas e dos
atos agressivos, pois falta o corte que promove o apaziguamento. Mas como
conter os excessos mortíferos, se queremos sempre mais, não importam as
consequências? Como fazer uma criança aprender a lidar com a falta se a
sociedade vende a ideia de que se pode ter tudo? Como crescer com direção, se
as propagandas afirmam não haver limites para a felicidade? Como entender um
‘não’ se atualmente dá-se um jeito para sempre haver o ‘sim’?
Nós matamos o pai, e agora colhemos as
consequências disso: estamos mesmo que mais informados, menos profundos, mais instáveis,
menos ideológicos, mais alienados às modas, mais influenciáveis e, consequentemente,
menos estruturados