quarta-feira, 27 de março de 2013

Desejo decidido


Há uma grande diferença entre desejar e ter um desejo decidido. Podemos passar uma vida inteira sonhando com as coisas que gostaríamos de realizar e assim vivermos na via do desejo insatisfeito ou impossível de concretizar. Isso é o pior!
O ser humano comete um grande erro ao manter o seu desejo como algo distante e inatingível, muito em função da ocupação com a realização do desejo dos outros. Há certa satisfação na dor da não conquista, do insucesso, e assim, muitos ficam parados nesse “eu desejo” e não se movimentam no “eu realizo”. Tem sempre algum ponto condensado ou alguma coisa pela qual nós nos deixamos ficar apenas no estado do “desejar”. É como se a cada corrida ficássemos na linha de largada imaginando o quanto seria bom o percurso até a linha de chegada. Chegar é preciso, e a graça da vida não está somente na chegada, mas no percurso que traçamos até lá. João Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas” já nos alertou: “O real não está na saída nem na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
O desejo decidido é aquele que realizamos sem medo e sem necessidade de garantias e certezas. Realizamos porque queremos. É o que nos tira da inércia da insatisfação e nos coloca a dar um passo a mais na vida... fazer girar o moinho que vivia estagnado na ideia de quem sabe um dia algo fosse fazê-lo girar.
Desejar é fundamental para seguirmos com a vida adiante, mas ficar no desejo em estado imaginário, sem concluí-lo, é um engano. Cada um tem seu tempo e seu modo de lidar com o desejo, um tempo particular pelo qual não podemos nos deixar levar sem uma responsabilização, afinal de contas, este tempo da decisão é cada um quem o faz, produzindo o efeito de solavanco que nos tira da angústia da estagnação. É o solavanco que somente cada um pode operar em sua vida, de modo que a decisão de hoje promova aberturas para novas decisões futuras.
Se há algo que o desejo nos ensina é que por ele não se pode passar sem a coragem de realizá-lo. É preciso rigor para fazer, do desejo, algo decidido. Um rigor de conclusão, ou então ficamos na imaginação estéril e paralisante. Aqui mora a diferença radical entre o desejar infinito e o desejo concluído.
No próximo artigo falarei sobre “fobia”. Até lá!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Religião ou ciência? Por onde seguir?


A renúncia do Papa no Vaticano trouxe uma série de dúvidas e discussões em torno da questão da religião e do papel dela no cotidiano das pessoas. As consequências de cada fato dependem de como o encaramos. O Papa renunciar, para uns é o fim, é a perda da direção, um motivo de desespero. Já para outros, pode ser um recomeço, uma renovação, uma nova etapa, assim como cada coisa da vida que nos exige adaptação e movimento.
Por mais que o Papa tenha alegado problemas de saúde, justificando assim sua renúncia, acredito que os motivos foram outros. Há uma grande diferença entre o catolicismo e o Vaticano como estado de poder financeiro. Não foi o primeiro Papa a renunciar... e a história mostra que aqueles que tentaram conter o espírito financista e mercantil dos mandantes do Vaticano acabaram sofrendo consequências cruéis. O poder do Vaticano não perdoa ninguém, nem mesmo os Papas, e sábios foram aqueles que souberam se retirar no momento certo.
Mas, enfim... voltemos ao que nos interessa aqui hoje!
Vivemos em um tempo em que a religião perdeu espaço para a ciência. Os fatos e vivências que antes eram justificados pelas diversas religiões, hoje são explicados minunciosamente pela ciência. Grande parte da fé e crença que as pessoas tinham nos papas, pastores e líderes espirituais, agora se encontra sob as conclusões das pesquisas científicas. O discurso científico tem arrebanhado fiéis de todos os tipos e classes, tornando-se assim, a meu ver, a grande religião de nossa época. Estamos crentes na ciência e é ela quem nos dita quais caminhos seguir.
Independente das respostas que cada uma nos fornece, seja a religião ou a ciência, em nossa época as pessoas estão vazias de ideais e sem direção de vida. Por isso, cada resposta científica e cada mandamento religioso são levados a ferro e fogo como a única coisa a ser seguida. É preciso relativizar o que o Outro nos manda seguir e ser. Esse grande Outro com “O” maiúsculo, ditando suas regras, se não questionado ou esvaziado, pode acabar se tornando um problema, ao invés de ajuda na busca de solução.
Há quem consiga conciliar ciência e religião, mas há também quem fique cego pela ciência ou pela religião. Fato é que tudo nessa vida exige uma dose de crença. Cada consulta médica, cada projeto de vida, cada sonho a ser realizado, cada orientação dada pelo padre, pastor, mestre, professor ou cada receita médica, precisa de nossa crença, ou então nenhum efeito terá sobre nós. Por outro lado, nossa vida se torna alienada quando somente acreditamos e não realizamos, ou também quando esperamos que o Outro realize por nós sem nos implicarmos em uma busca própria. Estamos acostumados a deixar nosso destino na mão deste grande Outro, e exigimos que ele não falhe.
Religião ou ciência? Qual delas seguir? Siga naquilo que te faz bem e torne-se o construtor de seu próprio destino! Mas relativize e questione o que está escrito aqui, para que isso não se torne também um grande Outro.