Há uma grande diferença entre desejar e
ter um desejo decidido. Podemos passar uma vida inteira sonhando com as coisas
que gostaríamos de realizar e assim vivermos na via do desejo insatisfeito ou
impossível de concretizar. Isso é o pior!
O ser humano
comete um grande erro ao manter o seu desejo como algo distante e inatingível,
muito em função da ocupação com a realização do desejo dos outros. Há certa
satisfação na dor da não conquista, do insucesso, e assim, muitos ficam parados
nesse “eu desejo” e não se movimentam no “eu realizo”. Tem sempre algum ponto
condensado ou alguma coisa pela qual nós nos deixamos ficar apenas no estado do
“desejar”. É como se a cada corrida ficássemos na linha de largada imaginando o
quanto seria bom o percurso até a linha de chegada. Chegar é preciso, e a graça
da vida não está somente na chegada, mas no percurso que traçamos até lá. João Guimarães
Rosa em “Grande Sertão: Veredas” já nos alertou: “O real não está na saída nem
na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
O desejo decidido é aquele que
realizamos sem medo e sem necessidade de garantias e certezas. Realizamos
porque queremos. É o que nos tira da inércia da insatisfação e nos coloca a dar
um passo a mais na vida... fazer girar o moinho que vivia estagnado na ideia de
quem sabe um dia algo fosse fazê-lo girar.
Desejar é fundamental para seguirmos com
a vida adiante, mas ficar no desejo em estado imaginário, sem concluí-lo, é um
engano. Cada um tem seu tempo e seu modo de lidar com o desejo, um tempo
particular pelo qual não podemos nos deixar levar sem uma responsabilização,
afinal de contas, este tempo da decisão é cada um quem o faz, produzindo o
efeito de solavanco que nos tira da angústia da estagnação. É o solavanco que
somente cada um pode operar em sua vida, de modo que a decisão de hoje promova
aberturas para novas decisões futuras.
Se há algo que o desejo nos ensina é que
por ele não se pode passar sem a coragem de realizá-lo. É preciso rigor para
fazer, do desejo, algo decidido. Um rigor de conclusão, ou então ficamos na
imaginação estéril e paralisante. Aqui mora a diferença radical entre o desejar
infinito e o desejo concluído.
No próximo artigo falarei sobre “fobia”.
Até lá!