A
sociedade está doente. Sofre de um distúrbio que surgiu após a instalação do
modo de produção capitalista. Trata-se do ‘distúrbio do consumismo’, que
encontramos em formas agudas ou crônicas. Sem direção e perdidas por aí, as
pessoas estão sendo consumidas pelo que consomem. Tal doença traz consequências
como a angústia e a sensação de vazio. Além disso, sofremos do mal da pressa,
pois o que conseguimos consumir desaparece na mesma velocidade em que chega a
nossas mãos. Estamos cada vez mais ocupados e ocupando nossos filhos com coisas
sem sentido afetivo. Somos considerados seres cada vez mais ágeis, versáteis,
com imensos currículos, porém, estamos cada dia menos conscientes dos atos, menos
reflexivos, menos autênticos, menos humanos e mais dependentes de alguma coisa.
Dentro dessa cena consumista de nossa
hipermodernidade, o uso de drogas tem ocupado um lugar de destaque. É notável o
aumento dos casos de abuso de entorpecentes e de álcool. Assim, o usuário de
drogas vem se mostrando como o consumista perfeito. Ele é o exemplo claro do efeito
da doença do consumismo, pois está sempre querendo mais e mais. Qual a causa
disso? Há diversos fatores, mas podemos exaltar uma causa em particular: a predisposição
humana à dependência somada ao estilo de vida atual.
Predisposição humana à dependência? Isso
mesmo! Freud, em uma carta ao seu amigo Fliess, em 1897, diz ter descoberto que
a dependência é uma forte tendência de nosso aparelho psíquico. Isso é algo que
está presente em todos. Estamos sempre lutando contra o impulso de ficar
dependente de alguma coisa, alguma prática, algum objeto, pois, tentamos tirar
prazer de coisas que nos remetam inconscientemente às primeiras sensações de
nossa vida, gravadas na mente como sendo as mais intensas. A hipermodernidade,
diferente de outros tempos, favorece este tipo de comportamento, já que, atualmente,
vale qualquer coisa para nos livrar das preocupações e problemas. Qualquer
coisa que nos faça tentar voltar ao prazer dos primeiros meses de vida. Tudo
que nos deixe fechados em nós mesmos, num narcisismo profundo. Podem ser os
i-pads, carros, roupas, smartphones, remédios antidepressivos, cirurgias
estéticas excessivas, as drogas e o álcool. São os substitutos do seio da mãe,
são as chupetas da gente grande. Objetos do consumo que oferecem a ilusão de
satisfação plena, e dos quais estamos cada vez mais dependentes.
Queremos
felicidade, não importam os meios. Fazemos e acontecemos para ter satisfação.
Ora, essa inconsequência em busca do prazer não é exatamente o que o dependente
químico faz? Então, será que estamos todos viciados em alguma coisa, e o uso de
drogas é apenas o exemplo mais radical dessa doença social? Se para a
hipermodernidade, ser feliz é ter satisfação completa, então somos todos
infelizes, pois essa ideia é impossível. Essa é a ilusão do toxicômano com sua
droga. Essa é a ilusão da sociedade do consumo como um todo. O problema é que
quanto maior for essa ilusão, maior será o tombo!
Na busca de uma felicidade suprema, as
pessoas estão se matando. Ao invés de um sonho gostoso, a felicidade passou a
ser um problema. É preciso que cada um encontre sua maneira particular de ser
feliz, lidando com as infelicidades reais da vida e com as insatisfações. Isso
não precisa ser algo de megaproporção ou de última geração!