terça-feira, 11 de março de 2014

Sobre cada mulher

Em todo dia 8 de março é comemorado o dia internacional da mulher. Uma data para lembrar e marcar as lutas pelos direitos e melhores qualidades de vida das mulheres. Porém esta data traz um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que comemora e enfatiza o valor das mulheres, contribui para aumentar a discriminação e preconceito, assim como nas entrelinhas das comemorações em torno do dia dos negros, do índio, da árvore, das crianças. Todos estes são os mais vitimados, desrespeitados, subjugados e descartados da sociedade. Há por trás desses dias comemorativos um reforço da ideia de que são seres inferiores e que precisam de uma data para amenizar os desrespeitos e agressões que a sociedade lhes impõe a cada dia. A árvore, o índio, a criança, as mulheres, os negros são realmente tratados como iguais pelos nobres homens de nossa sociedade? Ao instituirmos e legitimarmos um dia para lembrarmos das mulheres e de suas lutas ao longo da história, automaticamente reafirmamos a discriminação sobre elas e a tornarmos ainda mais objetalizadas.

As mulheres lutam a toda hora. As mulheres conquistam seu espaço a todo momento. Cada mulher busca vencer os diversos obstáculos todo dia... e o maior deles é o tornar-se mulher. Portanto, o dia internacional da mulher deveria ser todo dia. E por ser todo dia o dia das mulheres, deveríamos acabar com essa história de data determinada, pois uma mulher não pode ser marcada e reservada a comemorar sua luta somente no dia 8 de março.
A mulher não é um ser que possa ser generalizado e nem mesmo tratado de forma grupal, como por exemplo: ‘as mulheres’, ou ‘todas as mulheres’. Mas sim devemos tomar a mulher como única e uma a uma. O psicanalista francês Jacques Lacan em um de seus seminários chegou a afirmar que “A Mulher não existe”, ou seja, a mulher com “M” maiúsculo não existe, pois não há algo que unifique as mulheres em torno de um só significado ou sentido universal.
Freud, ao escrever sobre o enigma da feminilidade, lançou a pergunta: “O que quer uma mulher?” É possível fazer a pergunta: o que quer uma mulher? E não pergunta: o que querem as mulheres? Como se fosse possível tratar a todas como iguais. A resposta à pergunta, o que quer uma mulher, pode ser respondida somente se cada mulher for tomada uma a uma em sua particularidade e singularidade, pois cada uma tem seu jeito de ser mulher, o seu desejo e o seu querer.
Mulher não cabe em nenhuma palavra, não se encaixa em nenhum significado, uma mulher torna-se a cada dia de forma singular e não se restringe a uma data no ano.
Para finalizar, trago aqui a afirmação de uma mulher mineira em sua poesia:

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou
.” Adélia Prado.