Em todo
dia 8 de março é comemorado o dia internacional da mulher. Uma data para
lembrar e marcar as lutas pelos direitos e melhores qualidades de vida das
mulheres. Porém esta data traz um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que comemora
e enfatiza o valor das mulheres, contribui para aumentar a discriminação e
preconceito, assim como nas entrelinhas das comemorações em torno do dia dos
negros, do índio, da árvore, das crianças. Todos estes são os mais vitimados,
desrespeitados, subjugados e descartados da sociedade. Há por trás desses dias
comemorativos um reforço da ideia de que são seres inferiores e que precisam de
uma data para amenizar os desrespeitos e agressões que a sociedade lhes impõe a
cada dia. A árvore, o índio, a criança, as mulheres, os negros são realmente
tratados como iguais pelos nobres homens de nossa sociedade? Ao instituirmos e
legitimarmos um dia para lembrarmos das mulheres e de suas lutas ao longo da
história, automaticamente reafirmamos a discriminação sobre elas e a tornarmos
ainda mais objetalizadas.
As mulheres lutam a toda hora. As mulheres
conquistam seu espaço a todo momento. Cada mulher busca vencer os diversos
obstáculos todo dia... e o maior deles é o tornar-se mulher. Portanto, o dia
internacional da mulher deveria ser todo dia. E por ser todo dia o dia das
mulheres, deveríamos acabar com essa história de data determinada, pois uma
mulher não pode ser marcada e reservada a comemorar sua luta somente no dia 8
de março.
A mulher não é um ser que possa ser generalizado e
nem mesmo tratado de forma grupal, como por exemplo: ‘as mulheres’, ou ‘todas
as mulheres’. Mas sim devemos tomar a mulher como única e uma a uma. O psicanalista
francês Jacques Lacan em um de seus seminários chegou a afirmar que “A Mulher
não existe”, ou seja, a mulher com “M” maiúsculo não existe, pois não há algo
que unifique as mulheres em torno de um só significado ou sentido universal.
Freud, ao escrever sobre o enigma da feminilidade, lançou
a pergunta: “O que quer uma mulher?” É possível fazer a pergunta: o que quer
uma mulher? E não pergunta: o que querem as mulheres? Como se fosse possível
tratar a todas como iguais. A resposta à pergunta, o que quer uma mulher, pode
ser respondida somente se cada mulher for tomada uma a uma em sua
particularidade e singularidade, pois cada uma tem seu jeito de ser mulher, o
seu desejo e o seu querer.
Mulher não cabe em nenhuma palavra, não se encaixa
em nenhum significado, uma mulher torna-se a cada dia de forma singular e não se
restringe a uma data no ano.
Para finalizar, trago aqui a afirmação de uma
mulher mineira em sua poesia:
“Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.” Adélia Prado.
Mulher é desdobrável. Eu sou.” Adélia Prado.