Natural de Londres, cantora e compositora de inigualável capacidade, voz inconfundível e estilo original, Amy Jade Winehouse falece em sua mais autêntica forma de expressão. Não escondia seu problema, não fingia para e por ninguém, não negava que sofria.
Existem várias pessoas como Amy Winehouse por aí, mas ela era a expressão máxima do ser desesperado e iludido com o falso mundo propagado de nossa época. Um ser caído na armadilha do modo de vida atual que vende uma felicidade vazia, que tenta colocar o ser humano preso aos objetos, ou presa dos objetos de consumo.
Amy tornou-se a cada dia um ícone de nosso tempo. Ela nos transmitiu o que poucos conseguem perceber: apesar de estarmos cheio de coisas, a cada dia, nos sentimos mais vazios.
Nossa condição mais real e mais verdadeira é a falta. Mas o que o mundo pós-moderno tenta fazer é nos impedir de tomarmos conhecimento de nossa própria falta. Somos chamados a consumir objetos a cada dia, um após outro e assim caímos na trama do vazio. Tentar ofuscar a falta é antecipar a morte. Sentir falta é essencial para buscarmos os projetos de vida. Mas indo contra isso existe o vazio, mantido pela aquisição desenfreada e consumismo. E isto, acredito estar na base do que de pior aconteceu com a cantora, que mostrava a cada dia o tédio no qual se encontrava.
Freud em 1914 já nos dizia desta sensação de vazio intenso, a angústia, “Angst” em alemão. Lacan como bom freudiano que foi, deu à angústia, “Angoisse” em francês, um lugar de destaque no psiquismo humano. A angústia é um sinal. Um aviso de que algo não vai bem e que um vazio está presente. Só sentimos este vazio, este aperto, quando algo ocupa o lugar da tal falta, que por princípio causaria o nosso movimento de busca e desejo. A angústia é a ausência de sentido, é a paralização do desejo, é a falta da falta.
Amy Winehouse! Aquela que mostra a todos o vazio em que o mundo se encontra. A angústia pós-moderna em carne e osso, literalmente.
Uma frase que se repete em suas músicas e que me chama a atenção é “tears dry”, que no português seria “lágrimas secam”. Denúncia de uma mulher que está sem lágrimas, que está sem como chorar por algo que nem sabe ao certo o que é. Pelas letras musicais, a cantora nos dava notícia de sua intimidade, assim como na música "Rehab" em que ela diz resistir às internações para tratamento do uso de drogas e álcool.

O ser humano está se entupindo com um discurso de falsa felicidade dependente dos objetos da tecnologia e da ciência. Permitam-se faltar! Deixem-se desejar! A vida se prolonga na falta, não nesse vazio angustiante, cheio de coisas, por onde entra também o porquê das diversas compulsões
Muito bom velho! Faz um fb para vc postar seus artigos, muito mais gente vai ter acesso aos seu trabalho. Fica a dica, midia social hoje é o que bomba.
ResponderExcluirAndrey,
ResponderExcluirBom tê-lo por aqui no blog.
Valeu a dica de divulgação.
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ResponderExcluirParabéns pelo artigo!
ResponderExcluirValeu Hanna!
ResponderExcluir"A vida se prolonga na falta". Parabéns. Muito bom o texto e a análise. Muito boa sua escolha de palavras, também acho que deveria expandir seus textos para o pessoal do Facebook.
ResponderExcluirAbraço.
Gostei! Também escrevi algumas notas sobre o acontecimento, mas sobre a ótica da perversão. O texto está acessível na minha pag do face neste link. http://www.facebook.com/notes/maria-pia-santoro/amy-a-trag%C3%A9dia-do-pop/2249010189728
ResponderExcluirconcordo - ela falava o tempo todo no terror sem nome, como dizia Lacan. Suas músicas eram a própria denuncia da violência com que vivênciava o objeto faltante. E quantos não o vivênciam assim tão violentamenta? quanto as relações de cada dia - individuais, em grupos, institucionais - não se inclinam e propiciam a tal violencia? e até mesmo favorecem. Dificil falar de cura, pensar em saúde enquanto mecanismos manequistas continuam vislumbrando usufruto do sofrimento e da vitimização! Autonomia e expressão para os sentimentos ainda são possíveis caminhos!
ResponderExcluirEm continuidade ao comentário do Matheus:
ResponderExcluirA falta é o que nos move, é o porquê de nossa busca. A Psicanálise nos transmite isso claramente!
À Joana:
ResponderExcluirSeu comentário me pôs pra pensar na 'Coisa' freudiana, 'Das Ding' que Lacan retoma como aquilo de mais selvagem que temos e que exige tratamento, não necessariamente psicanalítico. Muitos se tratam pela via das artes, mas no caso da Amy nem isso a segurou viva.
Em algumas músicas ela fala sobre um corpo estranho, um não querer saber da dor, dos sinais desse corpo. O que me leva a pensar que ela poderia ter sido uma Neurótica Obsessiva. Sem falar na sua necessidade de não deixar furos e falhas em tudo o que fazia, como fica claro no seu documentário, biografia.
ResponderExcluirÓtimo texto...