Qual é a primeira reação que temos ao nascer? Choramos... Reagimos ao desconforto e damos sinal de vida.
Mas por que nesse momento o bebê chora?
A princípio parece uma pergunta banal. Se pararmos para pensar por que é que o choro surge nessa hora ao invés de outra reação do corpo, aí fica difícil responder. Penso que o bebê chora porque não lhe é possível fazer mais nada diante da dor e do excesso de estímulos desconfortáveis sobre seu corpo. Luz, mudança térmica, seus membros saindo do repouso e uma corrente de ar invadindo e abrindo seu pulmão. Se ele falasse, alguma palavra pesada escutaríamos.
A intensidade das experiências pode ser percebida quando um choro forte aparece ou um sorriso natural. Mas por que diante da dor, seja ela física ou psíquica, nós choramos? E por que diante de algo prazeroso, nós sorrimos?
Sensações e percepções de diversas situações, nunca serão completamente assimiladas e sempre faltarão palavras para dar conta dessas experiências. Nessas situações que provocam sensações indizíveis por completo, sorrimos ou choramos. E posso dizer que a maioria delas será sempre inesgotável pelas palavras. Pois bem, podemos pensar então que o choro e o riso seriam descargas da sensação criada diante de um estímulo? Seria uma forma de dar vazão e escoamento à tensão acumulada?
É possível percebermos que cada pessoa tem seu limite e que suporta as coisas conforme um limite próprio e único. Quando esse limite é ultrapassado por excesso de sensações de dor, sofrimento, angústia, graça e prazer, uma tensão se acumula e há a descarga corporal. A saída de lágrimas, o grito, o movimento que envolve o choro são formas de escoar o sofrimento, bem como a gargalhada de escoar o prazer. Comparando, lembro aqui da água se transbordando e se escoando de um copo quando está acima do limite ou de uma piscina transbordando. Não é por acaso que algumas pessoas sentem alívio após o choro, desde que não seja um choro contido, pois o acumulo da tensão ainda permaneceria.

Tanto o choro quanto o riso são reações corporais consequências de excesso de estímulo, seja escutando algo, vendo ou lembrando. Também choramos de felicidade e até mesmo quando o riso é intenso as lágrimas saem. Que loucura!
A cada um cabe, respeitando o seu jeito próprio, esvaziar a tensão, sempre que preciso for... Ou esse acúmulo retornará de formas mais violentas, solicitando ser esvaziado. Mas mesmo assim um resto não esgotável permanecerá. O que faremos então? É melhor rir pra não chorar! Quer dizer, rir ou chorar vai dar no mesmo, ou seja, descarregar.
Este artigo foi escrito após algumas discussões com os colegas do Movimento Original de Psicanálise, em uma das famosas sextas-feiras de estudo. Meu Obrigado ao Márcio Gomide, Marcus Vinícius e Iara Biondini.
ResponderExcluirEsse texto é, como eu sempre te disse, um primeiro passo para algo maior. Há ainda muito o que debater nesse tema. Por exemplo: não seria de se esperar que o riso estivesse mais ligado ao prazer do que o choro? Será a descarga proporcionada pelo riso qualitativamente diferente da do choro? Quando alguém chora quando se esperaria que risse (e vice-versa) há algum outro mecanismo operando, que causa a troca de via de descarga? Essas são só algumas das questões que imagino que ainda podem ser investigadas. De toda forma, é um excelente texto, um dos meus favoritos.
ResponderExcluirOi Thales muito legal. Achei interessante quando você usou o termo "graça" ao referir-se ao estado do sujeito. Um termo não muito usado. Uma pergunta?
ResponderExcluirE o riso ou choro diante do crime, o choro e riso de Suzane Ristofen por exemplo( não sei como se escreve kkk).Qual a relação desse com seu passado. Riso em momentos difíceis e vice versa. Essa dualidade fria?Abrçs !Fugiu dmais do texto, mas é isso!
O comentário anônimo (que eu acho que seja do Aldrin) vai na mesma direção das perguntas do Marcus. Isto é, estamos pensando no mecanismo de descarga. Porém por que uns choram e outros riem nas situações de acúmulo pulsional? O que marca a diferença no funcionamento psíquico?
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