sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sobre o riso e o choro


Qual é a primeira reação que temos ao nascer? Choramos... Reagimos ao desconforto e damos sinal de vida.
Mas por que nesse momento o bebê chora?
A princípio parece uma pergunta banal. Se pararmos para pensar por que é que o choro surge nessa hora ao invés de outra reação do corpo, aí fica difícil responder. Penso que o bebê chora porque não lhe é possível fazer mais nada diante da dor e do excesso de estímulos desconfortáveis sobre seu corpo. Luz, mudança térmica, seus membros saindo do repouso e uma corrente de ar invadindo e abrindo seu pulmão. Se ele falasse, alguma palavra pesada escutaríamos.
A intensidade das experiências pode ser percebida quando um choro forte aparece ou um sorriso natural. Mas por que diante da dor, seja ela física ou psíquica, nós choramos? E por que diante de algo prazeroso, nós sorrimos?
Sensações e percepções de diversas situações, nunca serão completamente assimiladas e sempre faltarão palavras para dar conta dessas experiências. Nessas situações que provocam sensações indizíveis por completo, sorrimos ou choramos. E posso dizer que a maioria delas será sempre inesgotável pelas palavras. Pois bem, podemos pensar então que o choro e o riso seriam descargas da sensação criada diante de um estímulo? Seria uma forma de dar vazão e escoamento à tensão acumulada?
É possível percebermos que cada pessoa tem seu limite e que suporta as coisas conforme um limite próprio e único. Quando esse limite é ultrapassado por excesso de sensações de dor, sofrimento, angústia, graça e prazer, uma tensão se acumula e há a descarga corporal. A saída de lágrimas, o grito, o movimento que envolve o choro são formas de escoar o sofrimento, bem como a gargalhada de escoar o prazer. Comparando, lembro aqui da água se transbordando e se escoando de um copo quando está acima do limite ou de uma piscina transbordando. Não é por acaso que algumas pessoas sentem alívio após o choro, desde que não seja um choro contido, pois o acumulo da tensão ainda permaneceria.
Aqui vale lembrar a frase popularmente repetida: “tem que rir pra não chorar”. Ora, haveria algo em comum entre o riso e o choro? Ambos atendem ao mesmo propósito da descarga?
Tanto o choro quanto o riso são reações corporais consequências de excesso de estímulo, seja escutando algo, vendo ou lembrando. Também choramos de felicidade e até mesmo quando o riso é intenso as lágrimas saem. Que loucura!
A cada um cabe, respeitando o seu jeito próprio, esvaziar a tensão, sempre que preciso for... Ou esse acúmulo retornará de formas mais violentas, solicitando ser esvaziado. Mas mesmo assim um resto não esgotável permanecerá. O que faremos então? É melhor rir pra não chorar! Quer dizer, rir ou chorar vai dar no mesmo, ou seja, descarregar.

4 comentários:

  1. Este artigo foi escrito após algumas discussões com os colegas do Movimento Original de Psicanálise, em uma das famosas sextas-feiras de estudo. Meu Obrigado ao Márcio Gomide, Marcus Vinícius e Iara Biondini.

    ResponderExcluir
  2. Esse texto é, como eu sempre te disse, um primeiro passo para algo maior. Há ainda muito o que debater nesse tema. Por exemplo: não seria de se esperar que o riso estivesse mais ligado ao prazer do que o choro? Será a descarga proporcionada pelo riso qualitativamente diferente da do choro? Quando alguém chora quando se esperaria que risse (e vice-versa) há algum outro mecanismo operando, que causa a troca de via de descarga? Essas são só algumas das questões que imagino que ainda podem ser investigadas. De toda forma, é um excelente texto, um dos meus favoritos.

    ResponderExcluir
  3. Oi Thales muito legal. Achei interessante quando você usou o termo "graça" ao referir-se ao estado do sujeito. Um termo não muito usado. Uma pergunta?
    E o riso ou choro diante do crime, o choro e riso de Suzane Ristofen por exemplo( não sei como se escreve kkk).Qual a relação desse com seu passado. Riso em momentos difíceis e vice versa. Essa dualidade fria?Abrçs !Fugiu dmais do texto, mas é isso!

    ResponderExcluir
  4. O comentário anônimo (que eu acho que seja do Aldrin) vai na mesma direção das perguntas do Marcus. Isto é, estamos pensando no mecanismo de descarga. Porém por que uns choram e outros riem nas situações de acúmulo pulsional? O que marca a diferença no funcionamento psíquico?

    ResponderExcluir