Será possível
alguém não contribuir para que seu desejo seja realizado? Ora, se a pessoa
deseja, por que não realiza?
Aqui mora o
problema do ser humano. Sua grande tendência em colocar seu desejo como algo
inatingível. Sua grande tendência em fazer o possível para que o seu desejo
torne-se algo impossível.
Existe em nosso
jeito de viver, no nosso jeito de ser, uma dificuldade em bancarmos nosso
desejo. Funcionamos muito pela via da responsabilização do outro pelos nossos
fracassos e infelicidades. Abrimos mão dos sonhos em favor de uma postura
vitimada e sofredora. Há muito narcisismo nisso, pois gasta-se muita energia em
si mesmo e sobre si mesmo quando ficamos presos em pensamentos e atitudes de
vítima. Sustentar este lugar do escolhido dentre tantos para sofrer no mundo e
carregar o fardo do fracasso é um modo de satisfazer um narcisismo próprio.
O seu pior inimigo,
o que realmente te impede de conquistar as coisas é você mesmo e não os outros.
Cada um constrói, singularmente em sua fantasia inconsciente, o outro como o
grande vilão, como o grande responsável por sua insatisfação. Porém, quem mais
te atrapalha é você mesmo.
Ser feliz não
significa ter todas as vontades satisfeitas, todos os objetivos realizados.
Muito pelo contrário, isso seria o fim, o tédio, a morte. Viver de acordo com o
desejo vai no sentido de permitir-se conviver com faltas e incompletudes, pois
o desejar só existe por isso, e só tem sua razão de ser porque somos seres de
falta.
Porém, muitos se
prendem ao que falta e fazem disso um abismo sem fim. Quando o ser humano se
perde nessa direção e se joga no abismo da perda, vê seus sonhos mais
distantes, pois não faz das ausências uma causa de novas buscas, de novos
projetos e novos planos.
Uma coisa é
fundamental para que alguém consiga ser feliz: aceitar que não se é feliz por
completo e o tempo todo. Aceitar que vivemos somente por conta dos furos, na
medida em que são o motor da vida. Indo mais além, podemos até dizer que a
felicidade não é algo universal comum a todos. Não há receita de felicidade.
Cada um encontra seu modo feliz, na medida em que aprende a lidar com as incompletudes,
na medida em que aprende a lidar com sua própria frustração e consegue caminhar
de acordo com o desejo.