quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Inteligência Emocional: estar bem consigo mesmo

Seguem aqui as respostas que produzi frente às perguntas do Sr. Samuel Tadeu, Editor-chefe do Jornal Observador de Pedro Leopoldo-MG, a respeito do tema "Sentir-se bem consigo mesmo", algo que eu mesmo entendi como relacionado ao campo da "Inteligência Emocional".

1- O que significa estar bem consigo mesmo?
Principalmente ter desenvolvido a inteligência emocional suficiente para ser autorresponsável por todo o destino de sua vida e por tudo que lhe ocorre, juntamente com o sentimento de gratidão por tudo que enfrentou, conquistou e desenvolveu, ou seja, grato consigo mesmo pela luta pessoal do cotidiano, pelas conquistas, pelas vitórias, pelas derrotas e erros com os quais pode aprender e evoluir. Além disso, para a pessoa se sentir bem consigo mesma uma das condições primordiais é a de não se sentir vitimada, pois a posição vitimada produz rancor, desgosto e baixa autoestima. O vitimado nunca estará bem consigo mesmo, já que estar numa condição de vítima é dizer para si mesmo e para o mundo que ela não é boa o suficiente e não merece se sentir capaz. A vítima é a personificação da derrota; e se a pessoa se sente derrotada como poderá ficar bem? Impossível.

2- O que leva a pessoa a não estar bem com ela mesma?
Sensação de não merecimento, culpa, ingratidão e baixa autoestima. Tudo isto somado à posição vitimada é o que leva uma pessoa a fechar as portas da possibilidade de se sentir bem consigo mesma. A pessoa que não se respeita, não se trata bem, não se perdoa, não se ama, e sente que não merece viver bem, automaticamente sem pensar e sem ter consciência disso irá tomar decisões e atitudes que o levarão ao pior. Portanto, inconscientemente a pessoa que não se sente bem consigo mesma busca se punir, se adoecer e se fazer mal, numa espécie de masoquismo velado e bem disfarçado em uma posição de vítima dos outros e do mundo.

(Perguntas 3, 4 e 5 juntas em uma só resposta)
3- Qual a importância de ter ao nosso lado a presença de outras pessoas? 4- Por que a presença do outro às vezes nos incomoda tanto? 5- Seria este o motivo relacionado ao isolamento de muitas pessoas?
O ser-humano é ao mesmo tempo um ser social e avesso ao seu semelhante. Carregamos internamente esta divisão e conflito de ao mesmo tempo que queremos contato, nós temos uma aversão ao que os outros causam e despertam. A presença do outro em nossas vidas é a fonte de onde mais recebemos feedback e retorno de como somos, como estamos e o que sentimos. Somente no convívio com o outro que eu me torno um sujeito melhor comigo mesmo e evoluo. Porém é importante ressaltar que não são os outros que me dizem quem sou, mas é pelo convívio com o outros que eu mesmo me descubro quem eu sou. Sozinho isso seria impossível, pois ninguém acessa a si mesmo se não for pelas experiências que colhe fora.
A presença do outro às vezes incomoda somente quando eu encontro no outro algum traço de minha personalidade, característica ou jeito que eu mesmo possuo e não suporto ou não gosto. Nosso aparelho psíquico funciona muito pela via do mecanismo da Projeção Inconsciente, e quando eu encontro no outro a semelhança de algo em mim que não gosto ou que eu não mais gostaria de ter, eu projeto inconscientemente minha raiva, frustração e revolta. O ser humano não gosta no outro exatamente aquilo que internamente em si próprio não está dando conta. Para que os outros passem a te incomodar menos olhe para si mesmo e descubra o que esta relação específica está despertando em si mesmo. Ao se tratar e ao se livrar de suas neuroses e traços de personalidades disfuncionais, você automaticamente passará a não se incomodar tanto com alguns outros à sua volta. A coisa é inconsciente e é séria! A pessoa que se isola não está afim de se encarar, não consegue pagar o preço da evolução pessoal e não dá conta de lidar com as próprias questões, porque o contato com os outros é o que nos faz termos contato direto com o nosso âmago mais profundo. Não por acaso que o casamento e os relacionamentos sinceros nos exigem amadurecimento, pois o contato intenso com o outro potencializa o meu contato comigo mesmo e com meu mundo interno.

6- Para um bom relacionamento quer seja com amigos ou parceiro é fundamental estarmos bem com o que somos e fazemos?
Se eu não estou bem comigo mesmo e não trato minhas neuroses, por uma questão lógica, eu vou projetar isto nos outros à minha volta; e esta é a causa de tantos relacionamentos ruins e disfuncionais.

7- Muitas vezes as pessoas se envolvem em situações conflituosas e só deparam com esta situação depois que o leite está derramado. Como explicar isto?
A impulsividade é uma marca negativa de nossa contemporaneidade. Cada dia mais estamos produzindo crianças impulsivas, adolescentes ansiosos e adultos inconsequentes. Na palestra que fiz para o Rotary, sobre o tema "Ética na Contemporaneidade" pude abordar os três tempos lógicos que a Psicanálise formula sobre o funcionamento psíquico e que explicam o porquê de estarmos tão impulsivos e ansiosos. São eles: Instante de Ver, Tempo de Compreender e Momento de Concluir. A impulsividade típica das relações atuais não passam de uma consequência do esmagamento e diminuição do "Tempo de Compreender". Para a Psicanálise, todo pensamento, experiência, vivência, ação e comportamento passam por estes três tempos lógicos citados acima. Tudo que fazemos depende do nosso Instante de Ver e Experimentar uma determinada situação, para depois passarmos ao Tempo de Compreender esta determinada situação e elaborar o que experimentamos, para depois irmos ao Momento de Concluir, que é a decisão, reação e reposta frente ao que vi e elaborei. O grande problema é que na contemporaneidade nós passamos a eliminar o tempo de compreender e estamos curto-circuitando nosso aparelho Psíquico direto do Instante de Ver para o Momento de Concluir. Estamos cada dia mais eliminando o tempo de elaboração das coisas, o tempo de calcular as consequências, o tempo de pensar os efeitos, e passamos direto para a Conclusão! Não é à toa que estamos produzindo tantas agressões, tantos adoecimentos emocionais no corpo e tantas crianças com hiperatividade, ou seja, doenças e sintomas de uma sociedade que não mais possui o Tempo de Compreender tão necessário inclusive para sermos pessoas éticas e respeitosas com as leis e normas, cruciais para uma vida digna e saudável em sociedade.