Se há algo que nos desafia, este algo se
chama “criança”. Se há algo que é mais precioso para uma criança, este algo é
sua infância. Etapa da vida, onde a estrutura de personalidade se forma, e que
para sempre exercerá influência no modo como a pessoa conduzirá seu jeito de
ser. A palavra “infância” vem do
latim “infans”, que significa “aquele que não fala”. Porém, esse
significado não se faz muito pertinente, já que, as crianças falam, mesmo que
sem palavras, e, mais ainda, elas nos dizem muitas coisas pela via dos seus
comportamentos e reações.
Nas famílias,
nas escolas, nos meios em que a criança vive e cresce, existem vários fatores
afetivos que exercem influência nos funcionamentos psíquico e corporal. Alguns
sintomas, alguns comportamentos, podem ser frutos de desajustes emocionais que
a criança sofre ou sofreu. Diversos são os casos em que determinada criança
apresenta uma dor de cabeça, uma gastrite, insônia, atos agressivos,
isolamento, apatia e dificuldade de aprendizagem, tudo isso como consequência
de alguma experiência sofrida por ela e que ficou mal elaborada em sua mente. Raras
são as situações em que uma dificuldade da criança se deve a um distúrbio
cerebral por si só. Virou moda medicar todo tipo de reação das crianças. Devemos
ter calma com isso, pois, se seu filho é bagunceiro, arteiro, levado, isso não
é sinal de doença, é sinal de saúde, de vida. Talvez o problema esteja em você
que quer calá-lo às custas de remédios psiquiátricos e neurológicos. Talvez quem
precise de tratamento sejam os pais. Talvez o que precisa mudar é a vida que os
pais levam.
O modo como nosso corpo funciona está
intimamente ligado ao modo como experimentamos os fatos da vida. Ou seja, mente
e corpo não são coisas separadas, mas andam juntas e em constante interação,
seja apresentando saúde ou apresentando transtornos. Existem vários modos de se
falar o que se está sentindo, mas nem sempre isso fica muito claro, nem mesmo
para quem está tentando dizer. O que nossas crianças vêm apresentando, seja na
família ou na escola, é uma forma delas dizerem que algo não vai bem, e que,
por isso mesmo, elas consequentemente, não conseguem desenvolver alguma tarefa
da forma como se espera. É assim também conosco, adultos. Isto é, reagimos ao
que vivemos, ao que experimentamos no presente, ao que experimentamos no
passado e ao que esperamos do futuro.
Fiquemos
atentos aos dizeres que a criança traz, muitas vezes através dos atos, pois nem
tudo será passível de expressão por meio das palavras. E não esqueçamos que, medicar
a infância de uma criança fará dela um ser adoecido, sem que ela
necessariamente seja um doente, sem que ela necessariamente precise de Ritalina
ou Diazepam. Na maioria dos casos, tentar compreendê-la e escutá-la pode ser um
caminho mais digno!