quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Volta às aulas e as dificuldades de aprendizagem


Com a volta das aulas, voltam também as dúvidas de pais e professores quanto ao aproveitamento escolar de certos filhos/alunos.
O aprendizado de um aluno, quando insatisfatório, pode estar sofrendo influência de uma série de fatores que o rodeiam. Porém é exigido que o aluno dê conta dos trabalhos, dos deveres, das provas e das matérias, independente do que esteja acontecendo na sua vida particular, afetiva, social, e até mesmo independente do que esteja sofrendo no seu organismo. Ou seja, pouco importa seu estado psicológico e fisiológico, é necessário cumprir um cronograma e gerar resultados positivos; exigência que não deixa de trazer problemas também para os(as) professores(as). Mas essa exigência de saber acaba criando uma série de rótulos e diagnósticos nas crianças e adolescentes que, por algum motivo, não aprendem ou não se comportam da maneira como a escola gostaria.
Recentemente o Conselho Federal de Psicologia lançou a campanha de combate à medicalização da vida com o seguinte lema: “Se você acha que seu filho é muito arteiro, fique calmo! Ele está apenas sendo criança! Não ao uso indiscriminado de remédios nas escolas.” Essa campanha nos alerta para o fato de que na maioria dos casos não há nada de errado no cérebro da criança, mas sim que ele está apenas vivendo sua infância, ou então, que está passando por conflitos de ordem emocional na dinâmica familiar e que ele precisa extravasar.
O que esperar de uma criança que está passando por problemas pessoais? É normal ela ficar agressiva ou inibida na escola, pois talvez seja o único lugar em que ela possa se expressar. Seria mais adequado deixarmos de lado os diagnósticos de hiperatividade, ansiedade ou distúrbio de conduta para entendermos os fatores que estão impedindo o aluno de aprender. Parece que esquecemos que um aluno é gente, e como tal, sofre, tem medos, fica triste, adoece, sente reações no corpo, possui desejos e sonhos muitas vezes frustrados e incompatíveis com sua realidade.
Sim, é impossível a escola atender e entender cada aluno em sua particularidade, já que existem os conteúdos programáticos a serem cumpridos. Mas será mesmo que aprender significa somente cumprir com eficiência um cronograma? O que mais temos a oferecer aos nossos alunos, além de testes, notas e diagnósticos? Adoramos comparar e classificar os alunos, porque isso nos exime da responsabilidade sobre eles enquanto pais, professores e profissionais da saúde. O problema fica todo nas costas do aluno, pois se ele é agressivo, hiperativo ou desobediente não adianta fazer nada, é uma doença, um mal que ele carrega, e a culpa é somente dele.
É mais fácil rotular os alunos com uns diagnósticos do que nos perguntarmos em que medida nós os fazemos assim. Somente se fizermos a pergunta sobre o nosso papel nesse imenso número de alunos com ‘dificuldade de aprendizagem’ que poderemos, num segundo momento, convidar o aluno a se responsabilizar pelo conflito que está passando, e implicá-lo no seu próprio problema, ensinando-o a tomar as rédeas de sua própria vida e dar um destino diferente para aquilo que fizeram dele.