quinta-feira, 28 de março de 2019

Amor que mata nunca foi amor: uma reflexão sobre crimes passionais

Se alguém acha que o ato de matar tem sua raiz no amor, está imensamente enganado. Grandiosamente e extremamente enganado. Faço questão de frisar isto, pois se em algum momento alguém mata é porque a relação que existia entre assassino e vítima nunca foi de amor, mas sim uma relação de objeto e posse. Nestes casos, o outro não era parceiro de amor, mas sim um mero objeto a serviço das vontades e da possessividade. Amar é suportar o outro não sendo meu e sim dele mesmo. Quando amo, amo o outro e não alguém que quero que o outro seja, conforme o que quero e o que penso. Amar é respeitar e conviver com quem escolheu estar ao meu lado, numa caminhada a dois, e não como se a caminhada fosse a Um. Casal não é um só. São dois uns, dois diferentes, cada um, cada um. Querer fazer dois virarem um só num mesmo ritmo e vontade é no fundo, desejo de matar a particularidade e matar a diferença. Cuidado com esses ou essas que dizem ser um só com você, e que vocês dois formam um só. Cuidado com esses ou essas que dizem que você precisa ser do jeito que ele ou ela querem. Existe uma grande diferença entre parceiros de amor que contornam diferenças para criarem um convívio mais saudável, e aqueles parceiros adoecidos que exigem que outro mude de personalidade ou mude para agradar ao Ego. Todo casal muda junto, tanto para o melhor ou para o pior. Mas este melhor e este pior têm que ser analisados pela própria pessoa. Você consigo mesmo precisa analisar se está melhor para você ou pior PARA VOCÊ MESMO! Você é seu parâmetro. Se for mudar por alguém, que seja primeiro por você mesmo. Mudar pelo outro é um engano e logo será um objetivo fracassado. É assim que começa uma relação doentia, e que em muitos casos acaba em agressão ou morte. Agredir e matar é objetalizar, possuir e enquadrar o outro dentro daquilo que o meu Ego quer. A lógica que está na raiz de um feminicídio ou qualquer homicídio passional que o senso comum erroneamente expressa "matou por amor" não é a lógica do amor, nunca foi, mas sim se trata da lógica onde o outro é objeto da minha vontade, e se a vontade não é satisfeita, o que a impede de ser completa acabará sendo eliminado, no caso o(a) parceiro(a). É uma manifestação da pulsão de morte em sua vertente agressiva, e todos os humanos carregam isso, uns mais outros menos.

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