segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Transtorno mental: problema cerebral ou psíquico?

Assusta-me a grande quantidade de pessoas, inclusive crianças, fazendo uso de antidepressivos e ansiolíticos. Os transtornos mentais, sejam eles leves ou graves, são problemas no funcionamento dos neurônios? Ou são causados por desarranjos psíquicos? Quando digo ‘psíquico’ quero falar de causas afetivas, emocionais, que surgem de nossas experiências no mundo, na infância, na família, nos relacionamentos, com os pais... Enfim, fruto da vivência humana.
Existe uma forte corrente científica que acredita unicamente no “desequilíbrio químico” do cérebro. Porém esta ideia nunca conseguiu ao certo provar-se como verdade única, mesmo que os laboratórios insistam nessa tese e queiram alienar a população, fazendo-a acreditar cada dia mais somente nisso. Afinal, vender remédio é imensamente lucrativo. Quanto mais pessoas confiando que o cérebro é a causa da depressão, mais remédios serão vendidos.
Mas por que, mesmo sabendo que a causa de seus problemas são outros, as pessoas insistem nos remédios e acreditam cegamente nas teses neuronais? É uma ferida na onipotência e no narcisismo, além de vergonhoso para alguns, assumir que existem problemas em casa, na vida íntima. Assim, fica mais fácil eu dizer que a causa de minha agressividade é porque Deus fez meu cérebro com falta de serotonina, ou com excesso de dopamina. Portanto, no meio social, passo uma impressão de que o problema não é meu, mas do meu cérebro. É como se a causa de meu transtorno mental não passasse pelas minhas escolhas e desacertos da vida, dos quais eu sou responsável. Esse raciocínio de passividade e vitimização de nossa época nos fez ganhar o rótulo de Geração T. Isto é, Geração Testemunha, que acompanha tudo que acontece, mas é incapaz de analisar e criticar o que se passa consigo mesma.
O problema que causa uma febre não é a falta de aspirina no corpo, e sentir dor não é devido à falta de morfina no corpo, como se fôssemos doentes por não termos todas as substâncias dentro de nós. O que faz uma criança ser agitada e desatenta não é um desequilíbrio químico dos neurônios. Antes mesmo de o remédio entrar em sua vida, preste a atenção nas coisas que já aconteciam e que não vinham muito bem. São raríssimos os casos em que a causa de um transtorno mental é biológica, mas raríssimos mesmo!
O remédio muda sua vida ou apenas ameniza seus sintomas? É melhor sempre cuidar do machucado ou entender por que se machuca tanto? Acreditamos demais nos tais milagres da química divulgados na mídia. Quando colocaremos o pé no chão real da vida e assumiremos responsabilidades pelos transtornos? Deixaremos que a ciência nos conduza como única luz possível neste túnel escuro?
Faço-lhes uma indicação de leitura que me pôs a pensar mais neste tema. Trata-se da reportagem “A Epidemia de Doença Mental” de Márcia Angell na Revista Piauí de agosto deste ano, nº59. Vale a pena não ficar tão alienado e parar de se enganar às custas da indústria farmacêutica. O destino de sua vida passa pelas suas escolhas, muito mais do que pelas sinapses de seus neurônios. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Paul Valéry

Ambroise-Paul-Toussaint-Jules Valéry, foi um filósofo, escritor e poeta francês.
"Les livres ont les mêmes ennemis que les gens: le feu, l'humidité, les animaux, la météo, et leur propre contenu"
"Os livros têm os mesmos inimigos que as pessoasfogo, umidade, animais, clima, e seu próprio conteúdo "

Um pedacinho da história da loucura... Brant, Bosch, Erasmo de Rotterdan, Foucault e o inusitado Billie Joe Armstrong

Segue aqui o artista Hieronimus Bosch e suas ilustrações sobre o modo como se interpretavam e tratavam as manifestações psíquicas na era clássica, fim do tempo medieval. Marco do início da 'Grande Internação', da forma como Michel Foucault nos explica, e início da exclusão do 'louco' dos meios culturais, como se a ele não fosse possível o direito à vida social. Essa é uma longa discussão... que nos atravessa ainda hoje.

Segue aqui o Navio dos Loucos ou a Nau dos Loucos - Narrenschiff. Uma ilustração sobre o período em que as cidades expulsavam seus 'loucos' e os destinavam aos asilos espalhados por toda Europa, através de grandes embarcações rios acima e abaixo. Alguns dizem que Bosch ilustrou o que Sebastian Brant escreveu em sua obra Das Narrenschiff de 1492 ou Stultifera Navis versão em latim de 1497.


Tentativa do homem dito" racional" de expurgar a insanidade de dentro das cidades, porém, ironicamente o louco leva consigo um saber trágico e revelador, apreciado e inatingível pelos homens "normais". A árvore que a Nau traz como mastro principal representa o saber (árvore proibida, a árvore da imortalidade pretendida). O  embarque anunciava a Grande Internação que estava por vir, tendo seu marco com a criação em 1656 do Hospital Geral de Paris, uma instituição pautada nos moldes morais, muito mais do que sob princípios médicos.


E abaixo a Extração da Pedra da Loucura ou Cura da Loucura - Das Steinschneiden. Diante do não saber o que fazer com a 'loucura', tentava-se retirar do cérebro alguma causa ou núcleo causador do mal estar psíquico. Ou quem sabe os invejosos tentavam tirar do louco seu saber em lidar com a vida de modo natural e livre? 




Diferente do que Brant e Bosch retratavam, tudo que havia de obscuro da loucura que espreitava o homem de fora para dentro, com Erasmo de Rotterdam em 1509 ao promover o Elogio da Loucura a insanidade passa ser o que se insunua de dentro do próprio homem em seu conflito consigo mesmo. Neste sentido, Foucault na História da Loucura na Idade Clássica compila: "A loucura só existe em cada homem, porque é o homem que a constitui no apego que ele demonstra por si mesmo e através das ilusões com que se alimenta"
Portanto, não nos esqueçamos do alerta de um cantor de nossa época, Billie Joe Armstrong do Green Day:
The space that's in between insane and insecure.

Oh therapy, can you please fill the void?
Am I retarded?
Or am I just overjoyed?
Nobody's perfect and I stand accused,
For lack of a better word and that's my best excuse.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Sublimação além do crime

O sujeito se mostra vivo na criação, até mesmo dentro da instituição!
Segue a poesia lavrada pelo delegado Reinaldo Lobo a respeito de um crime, na 29ª DP, de Riacho Fundo(18 quilômetros de Brasília). 
Vale a pena conferir a reportagem: 
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/08/delegado-do-distrito-federal-relata-crime-em-forma-de-poesia.html
"Já era quase madrugada
Neste querido Riacho Fundo
Cidade muito amada
Que arranca elogios de todo mundo
O plantão estava tranqüilo
Até que de longe se escuta um zunido
E todos passam a esperar
A chegada da Polícia Militar
Logo surge a viatura
Desce um policial fardado
Que sem nenhuma frescura
Traz preso um sujeito folgado
Procura pela Autoridade
Narra a ele a sua verdade
Que o prendeu sem piedade
Pois sem nenhuma autorização
Pelas ruas ermas todo tranquilão
Estava em uma motocicleta com restrição
A Autoridade desconfiada
Já iniciou o seu sermão
Mostrou ao preso a papelada
Que a sua ficha era do cão
Ia checar sua situação
O preso pediu desculpa
Disse que não tinha culpa
Pois só estava na garupa
Foi checada a situação
Ele é mesmo sem noção
Estava preso na domiciliar
Não conseguiu mais se explicar
A motocicleta era roubada
A sua boa fé era furada
Se na garupa ou no volante
Sei que fiz esse flagrante
Desse cara petulante
Que no crime não é estreante
Foi lavrado o flagrante
Pelo crime de receptação
Pois só com a polícia atuante
Protegeremos a população
A fiança foi fixada
E claro não foi paga
E enquanto não vier a cutucada
Manteremos assim preso qualquer pessoa má afamada
Já hoje aqui esteve pra testemunhá
A vítima, meu quase chará
Cuja felicidade do seu gargalho
Nos fez compensar todo o trabalho
As diligências foram concluídas
O inquérito me vem pra relatar
Mas como nesta satélite acabamos de chegar
E não trouxemos os modelos pra usar
Resta-nos apenas inovar
Resolvi fazê-lo em poesia
Pois carrego no peito a magia
De quem ama a fantasia
De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia
Assim seguimos em mais um plantão
Esperando a próxima situação
De terno, distintivo, pistola e caneta na mão
No cumprimento da fé de nossa missão
Riacho Fundo, 26 de Julho de 2011
Del REINALDO LOBO