Assusta-me a grande quantidade de pessoas, inclusive crianças, fazendo uso de antidepressivos e ansiolíticos. Os transtornos mentais, sejam eles leves ou graves, são problemas no funcionamento dos neurônios? Ou são causados por desarranjos psíquicos? Quando digo ‘psíquico’ quero falar de causas afetivas, emocionais, que surgem de nossas experiências no mundo, na infância, na família, nos relacionamentos, com os pais... Enfim, fruto da vivência humana.
Mas por que, mesmo sabendo que a causa de seus problemas são outros, as pessoas insistem nos remédios e acreditam cegamente nas teses neuronais? É uma ferida na onipotência e no narcisismo, além de vergonhoso para alguns, assumir que existem problemas em casa, na vida íntima. Assim, fica mais fácil eu dizer que a causa de minha agressividade é porque Deus fez meu cérebro com falta de serotonina, ou com excesso de dopamina. Portanto, no meio social, passo uma impressão de que o problema não é meu, mas do meu cérebro. É como se a causa de meu transtorno mental não passasse pelas minhas escolhas e desacertos da vida, dos quais eu sou responsável. Esse raciocínio de passividade e vitimização de nossa época nos fez ganhar o rótulo de Geração T. Isto é, Geração Testemunha, que acompanha tudo que acontece, mas é incapaz de analisar e criticar o que se passa consigo mesma.
O problema que causa uma febre não é a falta de aspirina no corpo, e sentir dor não é devido à falta de morfina no corpo, como se fôssemos doentes por não termos todas as substâncias dentro de nós. O que faz uma criança ser agitada e desatenta não é um desequilíbrio químico dos neurônios. Antes mesmo de o remédio entrar em sua vida, preste a atenção nas coisas que já aconteciam e que não vinham muito bem. São raríssimos os casos em que a causa de um transtorno mental é biológica, mas raríssimos mesmo!
O remédio muda sua vida ou apenas ameniza seus sintomas? É melhor sempre cuidar do machucado ou entender por que se machuca tanto? Acreditamos demais nos tais milagres da química divulgados na mídia. Quando colocaremos o pé no chão real da vida e assumiremos responsabilidades pelos transtornos? Deixaremos que a ciência nos conduza como única luz possível neste túnel escuro?
Faço-lhes uma indicação de leitura que me pôs a pensar mais neste tema. Trata-se da reportagem “A Epidemia de Doença Mental” de Márcia Angell na Revista Piauí de agosto deste ano, nº59. Vale a pena não ficar tão alienado e parar de se enganar às custas da indústria farmacêutica. O destino de sua vida passa pelas suas escolhas, muito mais do que pelas sinapses de seus neurônios.