É
importante observarmos o aumento considerável do número de casos de dependência
química nos últimos anos. Apesar de ainda existirem os usos recreativos, os usos
festivos, estamos vivenciando muito mais casos de dependência doentia ou abuso
das substâncias. A que se deve este aumento de pessoas que abusam ou sentem-se
viciadas nas diversas substâncias entorpecentes?
Existem os fatores psicológicos que
preparam o terreno para a pessoa ficar viciada e existe também a influência da
química no corpo, mas diante dessa pergunta sobre os motivos do aumento dos
casos, não há como deixarmos de lado os fatores “hipermodernidade” e
“consumismo”, como dois dos responsáveis por esse crescimento do uso de drogas
entre as pessoas. Ou seja, além do fator particular de cada um, há a
configuração social de nossa era hipermoderna, que nos leva a alcançar prazeres
de forma muito rápida e sem limites, onde entramos como consumistas sem freio. Um
grande ciclo de consumo hipermoderno faz nosso aparelho psíquico funcionar como
uma máquina de gozo. Uma máquina que busca a satisfação a qualquer preço, e
isso desde a infância. Porém, não somos capazes de atingir a satisfação
imaginada, e então, recorreremos a outros modos de prazer. E é por aqui que a
droga, muitas vezes, entra na vida do sujeito. Isto é, uma tampa para o buraco
que a insatisfação pelo fato de não consumir, não adquirir, não ter, não sentir
prazer deixa na pessoa.
A
hipermodernidade consumista nos programa/manipula para querermos sempre mais e
mais. Isso é um objetivo impossível! Quando frustramo-nos com a queda dessa
ilusão que a sociedade nos vende, a droga torna-se um caminho fácil e intenso
para ofuscar o sofrimento que cada um passa a sentir internamente. Uns chamam
de angústia, outros de depressão, outros de tédio ou desânimo. São nomes
diferentes para o vazio que a hipermodernidade nos traz.
Não somos vítimas por completo, pois há
ainda a possibilidade de escolha por uma vida em que se considere o “não ter”,
o “não poder”, o “não possuir”, o “não precisar”. Enfim, uma vida baseada no
real do limite, e não na ilusão do “posso tudo a qualquer preço”. Aquele que se
ilude neste ideal hipermoderno de felicidade sem fim, tem um passo em direção
ao abismo do tédio que leva ao abuso de drogas, pois vai querer sentir prazer
sempre. Prazer que a droga concede na mesma rapidez com que passa seu efeito.
Ora, é exatamente a mesma lógica dos aparelhos e tecnologias das quais nos
tornamos também dependentes. Prazeres rápidos, mas nunca duradouros. Isso nos
leva a concluir que o vício não é somente por drogas, mas por qualquer coisa
que nos traga sensação enganosa de prazer supremo.
O aumento dos casos de dependências e
vícios não acontece sem a influência da lógica hipermoderna, que tem nos conduzido
ao engano de que podemos ser felizes de forma absoluta e sem limites, mas,
mesmo assim, é a pessoa que escolhe por quais caminhos buscará seus prazeres.