terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Janeiro Branco: Saúde Mental

Entrevista ao Jornal Folha de Pedro Leopoldo

1 - Este mês se comemora o Janeiro Branco, como forma de chamar a atenção para questões relacionadas à saúde mental. Os casos de problemas de saúde mental têm aumentado em Pedro Leopoldo? Se sim, você tem dados do quanto aumentou nos últimos anos?
Foto Consultório Particular em Pedro Leopoldo
Os casos de pessoas que precisem de acompanhamento e tratamento em saúde mental têm aumentado sim de forma bastante considerável, tanto no SUS como na rede particular. Tanto pessoas com transtornos mais graves como também pequenos sintomas de desequilíbrio psíquico estão aumentando em nossa contemporaneidade. Desde transtornos compulsivos, ansiosos, depressivos até mesmo as psicoses e abusos de drogas estão cada dia mais presentes no cotidiano dos atendimentos nos serviços de saúde e consultórios. No Livremente, que é um serviço especializado nos transtornos Psiquiátricos graves, e que faz parte da rede SUS municipal, percebemos um crescente número de novos casos chegando para acolhimento a cada ano. Até hoje, desde que foi fundado em 2001, o Livremente já recebeu para tratamento cerca de 8.500 pessoas, todas pertencentes ao círculo populacional de Pedro Leopoldo. Um percentual bastante alto em relação à nossa população atual, que gira em torno de 60.000 habitantes. Ou seja, cerca de 14% da população de Pedro Leopoldo já passou pelo Livremente desde 2001 até hoje, e isto sem contar os casos mais brandos que nem chegam no Livremente e são tratados nos Postos de Saúde dos bairros, e sem contar também os números de pacientes que se tratam nos consultórios particulares. 
 
2 - E qual a doença com maior número de diagnósticos em PL?
O maior número de casos são de pessoas acometidas por transtornos mentais em decorrência do Abuso de Drogas e Álcool, Transtornos Ansiosos e Depressões. Aliás, a Depressão é considerada um dos grandes males do século e um dos grandes problemas de saúde no mundo.
 
3 - Caso exista, a que você relaciona este aumento de casos?
São diversos os fatores que contribuem para o adoecimento psíquico, como por exemplo organização familiar e hereditariedade, mas o aumento de pessoas precisando de tratamento em saúde mental se deve muito ao modo como nossa sociedade vem funcionando, ou seja, há uma loucura da vida cotidiana marcada pela pressa, consumismo, intolerância, pressão e busca pela perfeição, além de também, especificamente no Brasil, a carência econômica e carência sociocultural. Tudo isto contribui para o ser humano se desestabilizar e entrar em colapso mental.
 
4 - Na sua opinião, há um exagero do número de diagnósticos de doenças mentais atualmente? Se sim, por quê?
Sim. Há um exagero de diagnósticos em função do discurso científico precisar rotular, classificar e medicar qualquer coisa da vida atualmente, para poder lucrar em cima disto. Há uma tendência científica atual de  medicalizar a vida e transformar qualquer momento normal de dificuldade existencial em necessidade de ser considerado doença, para simplesmente vender mais remédios. Além disto, as pessoas preferem tomar um remédio e acreditarem que elas possuam um diagnóstico do que construírem as respostas e saídas para o sua dificuldade atual, de modo a mexer na estrutura do sofrimento e não somente amenizar os sintomas. Nenhum medicamento na área de Saúde Mental muda a estrutura da pessoa, mas sim alivia sintomas. A indústria farmacêutica investe pesado na propaganda e no discurso de que há remédio para tudo que você sinta, porém ao preço de você ficar dependente disto. Remédio para dormir, remédio para acordar, remédio para falar, remédio para calar, remédio para parar, remédio para andar, remédio para concentrar, remédio para se desligar, e por aí vai. Enfim, a Ciência, em sua busca pelo faturamento financeiro, descobriu que as pessoas adoram remediar a vida ao invés de realmente buscarem saídas consistentes e estruturantes. Há casos sim que precisam da medicação por toda a vida, para que a pessoa tenha um mínimo de estabilização para seguir no cotidiano, como por exemplo os transtornos graves. Há muitos casos também que, juntamente com a busca por outras alternativas terapêuticas, a pessoa precise momentaneamente da ajuda medicamentosa. Mas há outros muitos casos em que a medicação foi a escolha pelo caminho mais fácil, sem nem mesmo a pessoa precisar e sem nem mesmo tentar um caminho mais estruturante e que vá realmente na raiz dos sintomas.
 
5 - Qual o trabalho desenvolvido pelo Livremente e o quanto ele tem ajudado neste sentido?
O Livremente é um equipamento denominado CAPS II - Centro de Atenção Psicossocial - Nível II – e configura-se como uma clínica de atenção especializada para o cidadão acometido por Transtornos Mentais Moderados e Graves. Nosso serviço funciona com plantões de acolhimento às crises e urgências Psiquiátricas, bem como para avaliação e tratamento dos casos encaminhados por nossa Rede de Atenção local (RAPS). A equipe é composta por Profissionais de Psicologia, Psiquiatria, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Artista Plástico, Assistente Administrativo, Estagiários de Psicologia e Administração, Auxiliares de Serviços Gerais, Porteiro, Motorista.
O acolhimento/ recebimento e vínculo com o paciente é feito da seguinte forma: os pacientes chegam por dois caminhos: por uma crise e urgência imediata, ou via encaminhamentos dos outros equipamentos da nossa rede de Saúde, principalmente as unidades básicas de Saúde dos bairros (ESFs). O CAPS II - Livremente recebe também demandas de outras Secretarias como, por exemplo, Assistência Social e Educação, além de exigências da Promotoria e Justiça.
CAPS II - Livremente - em Pedro Leopoldo-MG.
O principal serviço oferecido pelo CAPS II - Livremente é a atenção no regime de Permanência-dia ou Hospital-dia, onde os pacientes permanecem o dia todo, passando por atividades em Oficinas Terapêuticas, recebendo as consultas especializadas e medicações. Os pacientes recebem também três refeições diárias (café da manhã, almoço e café da tarde). Além desta atenção intensiva na Permanência-dia para os casos mais graves, oferecemos também atendimentos ambulatoriais nos plantões de acolhimento com os profissionais de Psiquiatria, Psicologia, Terapia Ocupacional e Enfermagem. O objetivo da instituição é construir e garantir ao usuário um convívio social saudável, principalmente no meio familiar, parte importante para a evolução do tratamento de cada paciente atendido.
O CAPS II - Livremente é sustentado pela Legislação básica dos princípios e normas do SUS e Legislação especializada da Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica da Luta Antimanicomial.