quarta-feira, 1 de maio de 2019

Perdoar é libertar-se

A incapacidade de perdoar é a incapacidade de abrir mão de uma postura de dor, sofrimento e rancor. Quando experimento ou sinto uma ofensa, agressão, insulto, preconceito, segregação, e assim só me vejo nas alternativas de agredir de volta ou de me colocar vitimado, eu automaticamente estou perpetuando o rancor do Ego que insiste em sofrer. Deste modo não me libero da situação de dor e sofro emaranhado com o agressor. É importante sabermos que tanto o agredido que se mantém na posição de objeto, quanto o agressor ativo, ambos sofrem juntos e pagam um preço quando se mantêm perpetuando a situação, alimentando uma novela neurótica. Uma terceira maneira de lidar com situações assim (e isso exige muita inteligência emocional) é o perdão. Perdão não como uma aceitação passiva do que lhe houve, mas o perdão como uma maneira de você se livrar da cena e, se preciso for, se livrar também do outro. O perdão é uma libertação que ressoa positivamente, principalmente para si mesmo. Prender-se no fato ou na pessoa que lhe ofendeu só lhe deixa revivendo a cena. Isto é masoquismo. E no masoquismo, a pessoa se estaciona como eterna vítima do outro. Perdoar é se libertar daquilo que tanto lhe fez mal, fechar uma porta e seguir. Esta é uma das grandes manifestações de amor próprio. O destino da sua vida sempre será uma questão de escolhas que você faz para você mesmo e por você mesmo. Pode parecer uma incógnita, mas se você não se amar, você nunca vai perdoar!

quinta-feira, 28 de março de 2019

Amor que mata nunca foi amor: uma reflexão sobre crimes passionais

Se alguém acha que o ato de matar tem sua raiz no amor, está imensamente enganado. Grandiosamente e extremamente enganado. Faço questão de frisar isto, pois se em algum momento alguém mata é porque a relação que existia entre assassino e vítima nunca foi de amor, mas sim uma relação de objeto e posse. Nestes casos, o outro não era parceiro de amor, mas sim um mero objeto a serviço das vontades e da possessividade. Amar é suportar o outro não sendo meu e sim dele mesmo. Quando amo, amo o outro e não alguém que quero que o outro seja, conforme o que quero e o que penso. Amar é respeitar e conviver com quem escolheu estar ao meu lado, numa caminhada a dois, e não como se a caminhada fosse a Um. Casal não é um só. São dois uns, dois diferentes, cada um, cada um. Querer fazer dois virarem um só num mesmo ritmo e vontade é no fundo, desejo de matar a particularidade e matar a diferença. Cuidado com esses ou essas que dizem ser um só com você, e que vocês dois formam um só. Cuidado com esses ou essas que dizem que você precisa ser do jeito que ele ou ela querem. Existe uma grande diferença entre parceiros de amor que contornam diferenças para criarem um convívio mais saudável, e aqueles parceiros adoecidos que exigem que outro mude de personalidade ou mude para agradar ao Ego. Todo casal muda junto, tanto para o melhor ou para o pior. Mas este melhor e este pior têm que ser analisados pela própria pessoa. Você consigo mesmo precisa analisar se está melhor para você ou pior PARA VOCÊ MESMO! Você é seu parâmetro. Se for mudar por alguém, que seja primeiro por você mesmo. Mudar pelo outro é um engano e logo será um objetivo fracassado. É assim que começa uma relação doentia, e que em muitos casos acaba em agressão ou morte. Agredir e matar é objetalizar, possuir e enquadrar o outro dentro daquilo que o meu Ego quer. A lógica que está na raiz de um feminicídio ou qualquer homicídio passional que o senso comum erroneamente expressa "matou por amor" não é a lógica do amor, nunca foi, mas sim se trata da lógica onde o outro é objeto da minha vontade, e se a vontade não é satisfeita, o que a impede de ser completa acabará sendo eliminado, no caso o(a) parceiro(a). É uma manifestação da pulsão de morte em sua vertente agressiva, e todos os humanos carregam isso, uns mais outros menos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O que é um trauma para a Psicanálise? Assunto pertinente em função da tragédia de Brumadinho

O ser-humano é um ser traumatizado, pois o aparelho psíquico não dá conta de assimilar tudo e não dá conta de elaborar todas as experiências. Em alguma medida e em algum ponto, nós humanos sofremos de algum trauma, mesmo que pequeno. Vale lembrar que isso faz parte do nosso funcionamento psíquico, pois somos imperfeitos e nossa mente falha, fraqueja, apresenta lapsos e dificuldades em funcionar perfeitamente. Os traumas possuem sua raiz na infância, portanto, todo trauma é infantil. Como assim? Toda situação, vivência, experiência que venha a se tornar uma cena traumática é sempre uma atualização e reativação de um ponto de dificuldade da infância. Toda criança passou por alguma experiência de pavor, frustração, medo intenso, perplexidade, falta de entendimento de determinada cena, entre outras experiências que a colocaram em extremo estado de pressão psíquica e desamparo. Portanto, vivências posteriores ou secundárias, só se tornarão um trauma por terem ligações com estes núcleos infantis de sofrimento e desamparo, reativando memórias inconscientes e conteúdos adormecidos. Por isso que uma mesma situação experimentada por duas pessoas diferentes, por exemplo, em uma tragédia como a de Brumadinho, não necessariamente irá impactar da mesma forma estas duas pessoas envolvidas. Ambas irão sofrer e receber um impacto grande, mas para isso se fixar como trauma vai depender de cada uma. Isso tudo vai depender do que cada uma traz de vivências e experiências da infância e de como seu aparelho psíquico se organizou e aprendeu a funcionar antes mesmo da tragédia. Nem todo sofrimento virará um trauma, por mais extremo que tenha sido este sofrimento. Para consolidar-se um trauma é preciso que a cena secundária reative o desamparo de uma cena primária que ficou adormecida no inconsciente.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Aceitação não é conformismo, é atitude

Aceitação é uma virtude dos sábios. Não é fácil acessar esta virtude e ela se dispõe somente para os dispostos; para aqueles que a plantam e a cultivam.  Desenvolver a capacidade de aceitação é difícil, pois algo em nós insiste em sofrer e negar os fatos. Porém, quando enraizada no cotidiano, a aceitação deixa tudo mais fácil...  traz calma e nos permite ter tempo para pensar, viver e sentir, já que o contrário a isso é a ansiedade e a pressa adoecedora. A aceitação nos tira da revolta e do discurso vitimado. 
Quero ressaltar e deixar claro que aceitação não é conformismo. Aceitar o real das coisas e dos fatos é ser maduro o suficiente para entender que nem tudo está ao seu alcance e que a grande maioria da suas inquietações e ansiedades são por coisas que não serão mudadas por você, e que nem mesmo são de sua responsabilidade. 
Aceitar uma situação prepara o terreno e o estado de espírito para a estruturação da mudança. Quem aceita o real da vida, sai da zona de conforto e muda seu próprio destino. Este é o campo da atitude. O revoltado que não aceita, ele se vitimiza, infantiliza e não faz nada para mudar. O Ególatra (viciado no próprio Ego) não aceita nada e vive brigando com o mundo e com as pessoas... consequentemente, vive como um infeliz. 
Só é feliz quem aceita o real da vida e decide fazer algo diferente diante disso. Quem muda é você diante do real, e não você quem vai mudar o real. Seja dono de si mesmo, do seu destino, pois você nunca será dono das pessoas, das coisas ou do mundo. 
E então, o que você quer para si mesmo?