segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A perda do líder: possibilidade de sonho


A morte do ditador norte-coreano Kim Jong-il nos conduz a pensar muitas coisas pelas quais a humanidade passa, porém ainda ignora como se fosse algo trivial. Trata-se da relação das massas com seu líder, da alienação mental em torno da figura de grandes líderes ou em torno de ditadores. Já cansamos de ver as consequências devastadoras de movimentos que abolem a vida privada em nome dos ideais do grupo. O ser humano é capaz de tudo quando age em nome do bando. Desde pequenos grupos, turmas, até grandes nações, percebemos movimentos em torno de um ideal de onipotência. Os fanatismos religiosos estão no mesmo patamar dos líderes radicais como Hitler, Sadan Hussein, Kadafi e agora Kim Jong-il.

Ao ver as reportagens e vídeos mostrando a reação da população norte coreana com a morte do ditador, fiquei atento ao choro marcante do povo, diante da perda de sua referência. Na população feminina isso ainda é mais notável, quando aparecem aos prantos nas ruas. A perda da referência identificatória, daquele que garantia a ilusão comum da nação norte-coreana ainda vai ressoar bastante no povo. No lugar do ser imortal e imponente, agora só restam o vazio e a desestruturação da identificação imaginária. Uma crise que pode abrir espaço para sonhos e buscas particulares. Aliás, não somente na Coreia do Norte, mas em qualquer lugar do mundo, o vazio e o furo no imaginário sedutor abre espaço para o sujeito sonhar, buscar, realizar. Porém, por lá, rapidamente já elegeram o sucessor (o adolescente filho do ditador) a fim de não verem abaladas as estruturas da comunidade, da comum unidade. A política do falecido Kim Jong-il, que promove a amputação do desejo singular e o esmagamento do que pode haver de particular é capaz de fazer uma nação inteira viver alienada. 
Não podemos deixar de percorrer o texto de Freud "Psicologia das massas e análise do eu" e da discussão que ele desenvolve lá ao explicar o mecanismo que existe na estrutura dos movimentos populares e de condução de grupos por uma identificação alienada ao ser portador da liderança. Exteriorizamos na figura externa nossa responsabilidade sobre nós mesmos e depositamos no líder toda esperança de salvação, de cura, de conforto. O preço por isso é altíssimo. Pagamos com nossos sonhos mais íntimos, nossas fantasias mais preciosas em nome da unidade inabalável do grupo. Abrimos mão de projetos particulares para satisfazer o projeto da proposta única do grupo.
Não precisa ir muito longe para encontrarmos discursos alienantes nos quais as pessoas se agarrem para automaticamente se desresponsabilizarem de seus desejos, seus feitos e até mesmo seus erros. O ser humano faz de tudo para abrir mão de seu desejo e eleger o outro como grande culpado do fracasso. Daí então um meio de entender por que tantas pessoas se submetem a regimes totalitários ou práticas alienantes, ou seja, para nada saberem de si mesmas. É a fuga covarde, a escolha pela ignorância, para do desejo nada querer saber. Por isso, ainda veremos muitos ditadores pelo mundo. Há quem precise deles, infelizmente!