O terrorismo vem se mostrando cada dia
mais presente em nossa sociedade. Em diversos graus e de diversas formas,
atentados consumados e ameaças violentas estão cada vez mais banalizadas em nosso
cotidiano. Recentemente fomos surpreendidos com mais um ato terrorista nos EUA,
especificamente na maratona de Boston. Os responsabilizados pelo ato são dois
irmãos de 19 e 26 anos, religiosos islâmicos radicais que defendiam a luta pela
independência da Chechênia, república que hoje faz parte da Federação Russa.
Não somente neste caso específico, mas
em qualquer ato que esteja motivado por religião, causa política ou étnica, tem
como pano de fundo um narcisismo doentio, que fazem os indivíduos terroristas considerarem
qualquer diferença ou alteridade como algo insuportável e digno de ser
eliminado. A causa do terrorismo é um narcisismo desmedido e sem limite!
Provavelmente os irmãos chechenos
estariam em uma identificação narcísica sob um ideal acreditado como inabalável
e acima de qualquer impedimento. Fato que pode os ter feito tomar a atitude
radical do atentado, em nome de um objetivo idealizado, inquestionável e
supremo.
Os seres humanos, quando identificados
com um objetivo comum, são capazes de realizar atos extremos em nome de uma
identidade grupal, ideal político ou por conta de uma alienação à figura de um
líder. Toda manifestação agressiva contra algum grupo, população ou pessoa
específica, passa por uma causa imaginária em torno de alguma idealização
narcísica, que, por algum motivo, ficou abalada ou ameaçada. A violência é uma
reação defensiva para que o buraco no narcisismo daquele que se sentiu ferido seja
remediado. Um exemplo clássico e trágico disso foi o nazismo, que, a propósito, tem homofonia com a palavra narcisismo.
Temos um imenso desafio atualmente: pedem-nos
paz e respeito ao próximo, mas estamos cada vez mais narcísicos e menos tolerantes com a diferença. Todos
nós, de alguma forma, violentamos o outro que é diferente de nós, sejam com
palavras ou atos. Quem nunca se sentiu incomodado diante daquele que lhe é diferente
e assim reagiu com algum comentário ou um mínimo pensamento discriminador? O
problema é que a intolerância de muitos acaba gerando reações extremas e
doentias, que saem do nível do pensamento e chegam ao nível do ato. Portanto, qual
será o nosso destino? Seremos um bando de narcísicos terroristas, cada um na
sua bolha, destruindo uns aos outros em nome daquele ideal que acreditamos ser
melhor que o do vizinho?
Há uma grande diferença entre um
comentário e uma reação violenta, assim como há diferença entre sentir repulsa
e passar ao ato. Porém todos nós somos narcísicos, cada um na sua medida, e não
suportamos aquele que não nos é semelhante. Já dizia Caetano Veloso na música 'Sampa': “quando eu te encontrei frente a
frente não vi o meu rosto. Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau
gosto. É que Narciso acha feio o que não é espelho”.