terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O que é um trauma para a Psicanálise? Assunto pertinente em função da tragédia de Brumadinho

O ser-humano é um ser traumatizado, pois o aparelho psíquico não dá conta de assimilar tudo e não dá conta de elaborar todas as experiências. Em alguma medida e em algum ponto, nós humanos sofremos de algum trauma, mesmo que pequeno. Vale lembrar que isso faz parte do nosso funcionamento psíquico, pois somos imperfeitos e nossa mente falha, fraqueja, apresenta lapsos e dificuldades em funcionar perfeitamente. Os traumas possuem sua raiz na infância, portanto, todo trauma é infantil. Como assim? Toda situação, vivência, experiência que venha a se tornar uma cena traumática é sempre uma atualização e reativação de um ponto de dificuldade da infância. Toda criança passou por alguma experiência de pavor, frustração, medo intenso, perplexidade, falta de entendimento de determinada cena, entre outras experiências que a colocaram em extremo estado de pressão psíquica e desamparo. Portanto, vivências posteriores ou secundárias, só se tornarão um trauma por terem ligações com estes núcleos infantis de sofrimento e desamparo, reativando memórias inconscientes e conteúdos adormecidos. Por isso que uma mesma situação experimentada por duas pessoas diferentes, por exemplo, em uma tragédia como a de Brumadinho, não necessariamente irá impactar da mesma forma estas duas pessoas envolvidas. Ambas irão sofrer e receber um impacto grande, mas para isso se fixar como trauma vai depender de cada uma. Isso tudo vai depender do que cada uma traz de vivências e experiências da infância e de como seu aparelho psíquico se organizou e aprendeu a funcionar antes mesmo da tragédia. Nem todo sofrimento virará um trauma, por mais extremo que tenha sido este sofrimento. Para consolidar-se um trauma é preciso que a cena secundária reative o desamparo de uma cena primária que ficou adormecida no inconsciente.