A recusa do encontro real para restringir a vida ao mundo virtual é um sintoma de nossa contemporaneidade. Estamos cada dia mais virtuais e menos virtuosos. O encontro real com os outros e a convivência com as diferenças dos outros é um desafio cotidiano que exige de nós muita adaptação, paciência e compreensão. Tudo isto é o que nos faz crescer e evoluir, mas é também ao mesmo tempo tudo que o sujeito contemporâneo hipermoderno quer evitar, fugindo para o mundo virtual, onde tudo é lindo, fácil, rápido, na hora que eu quero, e que quando não quero basta eu "deletar", "excluir" ou "bloquear" e escolher logo outro ser humano objeto, da forma como fazemos nas prateleiras de supermercados e lojas. Estamos todos em liquidação e a vida se tornou um grande mercado!
O mundo das redes sociais é um mundo paralelo e totalmente diferente do mundo real. É um mundo fácil, porém esta facilidade cobra um preço, que é a nossa cotidiana incapacidade de lidar com as adversidades e desafios da vida real. Estamos cada dia mais impulsivos, imediatistas e incapazes de elaborar dificuldades, de lidar com perdas e de assimilar as diferenças. Não é por acaso que temos percebido o aumento da intolerância e agressividade, pois se não tenho condições de deletar e bloquear o outro na vida real eu parto para a agressão verbal e física, já que não sei dialogar, conversar e entender que o mundo não vai ser do jeito que acredito virtualmente. Nossos jovens não estão aprendendo a construir o futuro, a planejar para colher resultados, mas sim estão a prendendo a ter satisfações imediatas e rápidas sem precisar persistência e aprendizagem ao longo do caminho. O que isto causa? Ansiedade e comportamentos impulsivos, além de melancolia e isolamento, pois satisfação fácil e rápida não preenche o vazio existencial, apenas ilude, engana e faz crescer o rombo interior no Eu.
Este sintoma contemporâneo de exclusão do contato real tem nos obrigado a reduzir nossa comunicação à escrita de poucas palavras e às imagens, onde a voz, o diálogo coeso e o contato ao vivo ficam em segundo plano. O grande problema é que este contato virtual, mesmo que com diversas pessoas ao mesmo tempo não substitui o real das sensações de um encontro ao vivo. E quanto mais abrimos mão do contato ao vivo, numa fuga do desafio de aceitar o outro bem como evitação dos sentimentos que isto desperta, mais a gente busca satisfações substitutas de formas excessivas e sem controle, como drogas, consumismo, jogos, alimentação e sexualidade. E quanto mais caímos na compulsão excessiva mais fechamo-nos em uma bolha narcísica. Assim, menos estruturados e menos aptos para a VIDA REAL ficamos.
Diante das diferenças no contato com os outros que deparamo-nos com aquilo que, em nós mesmos, precisamos mudar, evoluir e tratar. O fechamento narcísico virtual só nos adoece e mortifica. O contato com os outros é um espelho que me mostra projetivamente aquilo que não suporto em mim mesmo, experiência importante com a qual posso escolher me fazer uma pessoa mais madura e crescer como ser-humano. Mas quem é que quer crescer né?