segunda-feira, 21 de maio de 2012

A causa da febre é a falta de aspirina no corpo?

Nas palavras do psicanalista francês Éric Laurent:
"Quando se constata que a dopamina, ou a inibição da recaptação de serotonina, produz efeitos, e se deduz que a causa da enfermidade é um déficit químico dessa substância, isso tem, do ponto de vista médico, mais ou menos, o mesmo valor do que dizer que a febre é causada por um déficit de ácido acetilsalicílico (aspirina) no corpo. Ora, não há dúvida de que a aspirina tem um efeito sobre a febre, mas sabemos que infecções não são causadas por um déficit de aspirina. Quando se constata que a dopamina é eficaz e produz uma série de efeitos em sujeitos deprimidos - aliás, efeitos muito variáveis - isso não permite dizer que a causa da depressão seja um déficit de dopamina. Se fosse assim, seria muito fácil detectar quem é deprimido: bastaria um exame de sangue no qual se constataria um déficit de dopamina para diagnosticar alguém como deprimido. Não seria preciso falar. Teríamos um teste bioquímico absolutamente factível, quando sabemos que não é bem esse o caso" (LAURENT, O que nos ensinam os autistas, 2012, p.20)

Esse é o problema da cientifização do ser humano. Tudo ficou reduzido à bioquímica do organismo. Esqueceram-se do afeto e do mais importante: as lembranças marcantes da história da pessoa. Lembranças que, mesmo sendo velhas, influenciam seu modo de vida.
Não basta somente ficarmos na crítica ao modelo de tratamento que só acredita na cura pela química. É preciso no cotidiano da clínica mostrarmos os efeitos de um trabalho que prima pelo subjetivo.

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