Instigado
pela frase que escutei de uma pessoa querida, trago aqui hoje um breve escrito
sobre o silêncio do psicanalista.
É comum
escutarmos de pessoas que se interessam por iniciar um tratamento psicanalítico
a fala de que se sentiram estranhas neste contato com a sessão psicanalítica. A
maior estranheza que sentem gira em torno do silêncio do analista. A pessoa que
se aventura a procurar uma psicanálise percebe que o silêncio, na sessão, é
introduzido e cultivado pelo psicanalista.
Isso não
é por acaso, e certamente é o que diferencia o ouro da
psicanálise de qualquer cobre psicoterapêutico que existe por
aí. A rigor, esta sensação de estranheza diante do estranho silencio analítico,
segundo Freud (1919), só surge quando entramos em contato com aquilo que temos
de mais íntimo e escondido. Freud fez de um termo corriqueiro um conceito na
psicanálise, é Das Unheimlich, o
estranho. Para Freud “Unheimlich é tudo o que deveria ter permanecido secreto e
oculto, mas veio à luz” (FREUD, 1919, p.282).
O estranho
é o que encontramos na análise. A técnica e a ética do psicanalista
proporcionam-nos o contato com aquilo que nós mesmos trazemos de mais íntimo e
amedrontador. Estranhamos o que há de estranho em nós mesmos.
Defendemo-nos
de nosso estranho íntimo em nome de uma repetição desprazerosa da vida, que
sempre reclamamos, mas não abandonamos. Agarramo-nos aos mais complicados
sintomas e comportamentos para nada do nosso inconsciente querermos saber.
Portanto,
não tememos o estranho que sentimos, é apenas algo da intimidade se manifestando que, talvez, precise
ser remodelada, tratada.
O
psicanalista está na posição de escuta silenciosa exatamente para que o que
precisa de fato ser dito venha à luz, no tempo de cada um.
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