Recentemente
fui perguntado sobre o que a Psicanálise teria a dizer quanto a um episódio de
repúdio por parte de um adulto frente à posição política momentânea de um
adolescente. Posição política esta do adolescente, incompatível com a posição
subjetiva deste adulto.
O
que a Psicanálise pode dizer e esclarecer é que uma posição política ou uma
escolha ideológica é uma das formas de expressão da subjetividade,
principalmente de um adolescente, em transição, em plena metamorfose pessoal e
em formação de presença singular no mundo. Ou seja, estamos no campo da esfera
íntima e particular. Estamos no campo da liberdade de o sujeito decidir ser
quem quiser, da forma como quiser e compartilhar dos pensamentos que no momento
lhe fizerem ter uma identidade. Se esta postura transcender a ordem pública ou
invadir o direito alheio, então temos os aparelhos de poder do Estado para
mediarem, conterem e se for o caso, até mesmo punirem.
Interpelar
a subjetividade de um ser humano sem o direito formal instituído para tal dever
social é invadir um terreno sensível, e no caso de um adolescente em plena
formação de personalidade é invadir um terreno frágil. Os efeitos de tal
desrespeito podem ser graves, a depender do nível de estruturação ao qual o adolescente
já esteja desenvolvido e do nível de suporte familiar que possui.
Nunca devemos nos esquecer que a adolescência é tempo de
turbulência, metamorfoses e mudanças. Uma postura política, ideológica ou
pensamento de um adolescente pode logo a frente mudar-se, visto que o sujeito
adolescente está em plena experimentação, em plena construção, e qualquer
intervenção irresponsável frente a este sujeito pode lhe trazer prejuízos
psíquicos importantes.
Atualmente, temos atravessados tempos difíceis de
intolerância e narcisismo, onde as pessoas acreditam serem melhores ou terem
posturas mais maduras do que outras e devido a isto se sentem no direito de
atacar, julgar e punir. O cenário político brasileiro e mundial têm dado
mostras deste narcisismo egoísta que agride tudo e todos que não lhe parecem
iguais. A diferença virou motivo de agressão! Cito Caetano Veloso na música
‘Sampa’ “é que narciso acha feio o que não é espelho”.
Cada
um precisa cuidar de si, pois o julgamento nada mais é do que a imperfeição
própria sendo projetada especularmente no próximo. Quanto mais eu julgo mais eu
dou a prova de que eu estou mal resolvido comigo mesmo. A projeção é um
mecanismo psíquico em que coloco no outro uma agressividade que eu mesmo tenho
contra minha própria pessoa. Porém, os outros não têm nada a ver com isso e não
precisam pagar um preço pela minha imaturidade e falta de inteligência
emocional. A perfeição não está comigo, nem com você, nem com adulto, nem mesmo
com o adolescente. Já diziam as pessoas mais espiritualizadas: A perfeição não é deste mundo!
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