terça-feira, 2 de maio de 2017

A subjetividade é terreno inviolável: reflexão em tempos de intolerância política

Recentemente fui perguntado sobre o que a Psicanálise teria a dizer quanto a um episódio de repúdio por parte de um adulto frente à posição política momentânea de um adolescente. Posição política esta do adolescente, incompatível com a posição subjetiva deste adulto.
O que a Psicanálise pode dizer e esclarecer é que uma posição política ou uma escolha ideológica é uma das formas de expressão da subjetividade, principalmente de um adolescente, em transição, em plena metamorfose pessoal e em formação de presença singular no mundo. Ou seja, estamos no campo da esfera íntima e particular. Estamos no campo da liberdade de o sujeito decidir ser quem quiser, da forma como quiser e compartilhar dos pensamentos que no momento lhe fizerem ter uma identidade. Se esta postura transcender a ordem pública ou invadir o direito alheio, então temos os aparelhos de poder do Estado para mediarem, conterem e se for o caso, até mesmo punirem.
Interpelar a subjetividade de um ser humano sem o direito formal instituído para tal dever social é invadir um terreno sensível, e no caso de um adolescente em plena formação de personalidade é invadir um terreno frágil. Os efeitos de tal desrespeito podem ser graves, a depender do nível de estruturação ao qual o adolescente já esteja desenvolvido e do nível de suporte familiar que possui.
            Nunca devemos nos esquecer que a adolescência é tempo de turbulência, metamorfoses e mudanças. Uma postura política, ideológica ou pensamento de um adolescente pode logo a frente mudar-se, visto que o sujeito adolescente está em plena experimentação, em plena construção, e qualquer intervenção irresponsável frente a este sujeito pode lhe trazer prejuízos psíquicos importantes.
            Atualmente, temos atravessados tempos difíceis de intolerância e narcisismo, onde as pessoas acreditam serem melhores ou terem posturas mais maduras do que outras e devido a isto se sentem no direito de atacar, julgar e punir. O cenário político brasileiro e mundial têm dado mostras deste narcisismo egoísta que agride tudo e todos que não lhe parecem iguais. A diferença virou motivo de agressão! Cito Caetano Veloso na música ‘Sampa’ “é que narciso acha feio o que não é espelho”.

Cada um precisa cuidar de si, pois o julgamento nada mais é do que a imperfeição própria sendo projetada especularmente no próximo. Quanto mais eu julgo mais eu dou a prova de que eu estou mal resolvido comigo mesmo. A projeção é um mecanismo psíquico em que coloco no outro uma agressividade que eu mesmo tenho contra minha própria pessoa. Porém, os outros não têm nada a ver com isso e não precisam pagar um preço pela minha imaturidade e falta de inteligência emocional. A perfeição não está comigo, nem com você, nem com adulto, nem mesmo com o adolescente. Já diziam as pessoas mais espiritualizadas: A perfeição não é deste mundo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário