quarta-feira, 4 de julho de 2012

Consumismo, drogas e felicidade: problemas da hipermodernidade


A sociedade está doente. Sofre de um distúrbio que surgiu após a instalação do modo de produção capitalista. Trata-se do ‘distúrbio do consumismo’, que encontramos em formas agudas ou crônicas. Sem direção e perdidas por aí, as pessoas estão sendo consumidas pelo que consomem. Tal doença traz consequências como a angústia e a sensação de vazio. Além disso, sofremos do mal da pressa, pois o que conseguimos consumir desaparece na mesma velocidade em que chega a nossas mãos. Estamos cada vez mais ocupados e ocupando nossos filhos com coisas sem sentido afetivo. Somos considerados seres cada vez mais ágeis, versáteis, com imensos currículos, porém, estamos cada dia menos conscientes dos atos, menos reflexivos, menos autênticos, menos humanos e mais dependentes de alguma coisa.
Dentro dessa cena consumista de nossa hipermodernidade, o uso de drogas tem ocupado um lugar de destaque. É notável o aumento dos casos de abuso de entorpecentes e de álcool. Assim, o usuário de drogas vem se mostrando como o consumista perfeito. Ele é o exemplo claro do efeito da doença do consumismo, pois está sempre querendo mais e mais. Qual a causa disso? Há diversos fatores, mas podemos exaltar uma causa em particular: a predisposição humana à dependência somada ao estilo de vida atual.
Predisposição humana à dependência? Isso mesmo! Freud, em uma carta ao seu amigo Fliess, em 1897, diz ter descoberto que a dependência é uma forte tendência de nosso aparelho psíquico. Isso é algo que está presente em todos. Estamos sempre lutando contra o impulso de ficar dependente de alguma coisa, alguma prática, algum objeto, pois, tentamos tirar prazer de coisas que nos remetam inconscientemente às primeiras sensações de nossa vida, gravadas na mente como sendo as mais intensas. A hipermodernidade, diferente de outros tempos, favorece este tipo de comportamento, já que, atualmente, vale qualquer coisa para nos livrar das preocupações e problemas. Qualquer coisa que nos faça tentar voltar ao prazer dos primeiros meses de vida. Tudo que nos deixe fechados em nós mesmos, num narcisismo profundo. Podem ser os i-pads, carros, roupas, smartphones, remédios antidepressivos, cirurgias estéticas excessivas, as drogas e o álcool. São os substitutos do seio da mãe, são as chupetas da gente grande. Objetos do consumo que oferecem a ilusão de satisfação plena, e dos quais estamos cada vez mais dependentes.
 Queremos felicidade, não importam os meios. Fazemos e acontecemos para ter satisfação. Ora, essa inconsequência em busca do prazer não é exatamente o que o dependente químico faz? Então, será que estamos todos viciados em alguma coisa, e o uso de drogas é apenas o exemplo mais radical dessa doença social? Se para a hipermodernidade, ser feliz é ter satisfação completa, então somos todos infelizes, pois essa ideia é impossível. Essa é a ilusão do toxicômano com sua droga. Essa é a ilusão da sociedade do consumo como um todo. O problema é que quanto maior for essa ilusão, maior será o tombo!
Na busca de uma felicidade suprema, as pessoas estão se matando. Ao invés de um sonho gostoso, a felicidade passou a ser um problema. É preciso que cada um encontre sua maneira particular de ser feliz, lidando com as infelicidades reais da vida e com as insatisfações. Isso não precisa ser algo de megaproporção ou de última geração!

4 comentários:

  1. Seu texto me remeteu a uma frase de simples palavras, porém de grande complexidade, dita por Freud: "A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz".
    É uma pena que felicidade tenha se tornado sinônimo de satisfação plena. Esta é uma amarga ilusão!

    Abraços da colega
    Ana Paula Ribeiro Rodrigues
    Psicóloga e psicanalista

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  2. Bem lembrado Ana Paula!
    O artigo acima é bem freudiano!
    Bom ver você aqui.

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  3. Beleza de texto. Acabou me fazendo lembrar de uma discussão recente que tive com uns colegas e que me fez pensar numa certa inversão da polaridade do supereu. Se antes ficava muito visível o caráter da proibição, agora fica evidente o da exigência de satisfação pulsional.
    O curioso é que quem segue à risca o programa do consumismo é visto como doente.

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  4. É verdade Marcus. O supereu é a marca do excesso, seja proibindo seja exigindo satisfação.
    A hipermodernidade nos deixa entregues ao excesso e nos rotula quando praticamos os excessos. Um paradoxo né? Querem consumo e prazer, mas punem e rejeitam quem comete excessos.
    Grande abraço meu caro!

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