Em homenagem aos professores, reedito aqui o
artigo que publiquei em 2011. Trata-se de uma reflexão sobre a árdua tarefa de
ser um(a) professor(a).
Freud disse por duas vezes ao longo de sua obra que
uma das profissões impossíveis existentes seria a do educador. Junto desta
profissão, outras duas impossíveis seriam a do psicanalista e a do governante.
O que há em comum em tais profissões que as fazem serem consideradas
impossíveis? Ser professor(a), uma tarefa impossível, visto a
impossibilidade de conseguir fazer alguém entender algo por completo. Ser
psicanalista, um trabalho impossível frente à impossibilidade de fazer alguém
se livrar de sua neurose por completo. Ser governante, uma profissão impossível
diante da difícil tarefa de atender todos os anseios e diferentes desejos da
população.
As escolas e o papel do educador foram ao longo dos
tempos perdendo sua função exclusivamente científica, ou talvez nunca a
exercessem de verdade, porque as famílias aprenderam a deixar nas mãos dos
professores funções muitas vezes não exercidas em casa, ou seja, as de pai e
mãe.
A modernização e a globalização do mundo fizeram os
pais e mães correrem para o trabalho e negligenciarem em grande parte a
condução dos filhos, seja nos estudos, seja nos modos de comportamento, seja no
jeito de respeitar a vida em comunidade e os outros. O que fazer se o trabalho
cada dia mais afasta os pais dos filhos? Muitos dirão: Mande-os para a escola!
Quanto mais tempo por lá ficarem, melhor será. Portanto, para quem fica toda a
carga de responsabilidade? Professor herói! Professora santa!
Mas os(as) professores(as) são tão fortes assim? Não
há dúvidas de que nossos educadores estão sofrendo e adoecendo. Afinal de
contas, pai e mãe muitos já são em casa e ainda têm que ser no local de
trabalho. Os que não são pais e mães na vida real, não possuem obrigação
nenhuma de passarem a ser.
Mas o problema também nasce de outro ponto. O
professor é gente. Sofre, adoece, sente medo, possui fraquezas e sonhos. Porém,
fomos acostumados a enxergar no educador uma figura forte e inabalável. Quando
pequenos, admirávamos sua posição de sabedoria e conhecimento. Quando éramos
adolescentes, desconfiávamos desta autoridade toda e exigíamos que nos dessem
mais responsabilidade e liberdade. Porém quando adultos então “responsáveis” e
“livres”, entregamos novamente a eles as nossas responsabilidades como pais, e
voltamos a depender deles. No entanto não os admiramos mais, e sim os cobramos,
exigimos e reclamamos como se fossem obrigados a cuidar de nossos filhos e de
nós mesmos indiretamente.
O que percebo nessas mães reclamonas e nesses pais
brigões de porta de escola é um pedido de ajuda. Uma forma indireta de dizer
que as coisas não andam nada bem em casa. A culpa diante do problema do filho é
esvaziada ao colocar o problema como consequência da incapacidade do professor
que não foi bom o bastante. Coitado(a) dos(as) professores(as), viraram
psicanalistas também. Só faltam serem governantes. Isso é um trabalho para a
Santa Professorinha ou para o Super-Professor-herói!