terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ser professor(a): missão impossível



Em homenagem aos professores, reedito aqui o artigo que publiquei em 2011. Trata-se de uma reflexão sobre a árdua tarefa de ser um(a) professor(a).
Freud disse por duas vezes ao longo de sua obra que uma das profissões impossíveis existentes seria a do educador. Junto desta profissão, outras duas impossíveis seriam a do psicanalista e a do governante. O que há em comum em tais profissões que as fazem serem consideradas impossíveis? Ser professor(a), uma tarefa impossível, visto a impossibilidade de conseguir fazer alguém entender algo por completo. Ser psicanalista, um trabalho impossível frente à impossibilidade de fazer alguém se livrar de sua neurose por completo. Ser governante, uma profissão impossível diante da difícil tarefa de atender todos os anseios e diferentes desejos da população.
As escolas e o papel do educador foram ao longo dos tempos perdendo sua função exclusivamente científica, ou talvez nunca a exercessem de verdade, porque as famílias aprenderam a deixar nas mãos dos professores funções muitas vezes não exercidas em casa, ou seja, as de pai e mãe.

A modernização e a globalização do mundo fizeram os pais e mães correrem para o trabalho e negligenciarem em grande parte a condução dos filhos, seja nos estudos, seja nos modos de comportamento, seja no jeito de respeitar a vida em comunidade e os outros. O que fazer se o trabalho cada dia mais afasta os pais dos filhos? Muitos dirão: Mande-os para a escola! Quanto mais tempo por lá ficarem, melhor será. Portanto, para quem fica toda a carga de responsabilidade? Professor herói! Professora santa!
Mas os(as) professores(as) são tão fortes assim? Não há dúvidas de que nossos educadores estão sofrendo e adoecendo. Afinal de contas, pai e mãe muitos já são em casa e ainda têm que ser no local de trabalho. Os que não são pais e mães na vida real, não possuem obrigação nenhuma de passarem a ser.
Mas o problema também nasce de outro ponto. O professor é gente. Sofre, adoece, sente medo, possui fraquezas e sonhos. Porém, fomos acostumados a enxergar no educador uma figura forte e inabalável. Quando pequenos, admirávamos sua posição de sabedoria e conhecimento. Quando éramos adolescentes, desconfiávamos desta autoridade toda e exigíamos que nos dessem mais responsabilidade e liberdade. Porém quando adultos então “responsáveis” e “livres”, entregamos novamente a eles as nossas responsabilidades como pais, e voltamos a depender deles. No entanto não os admiramos mais, e sim os cobramos, exigimos e reclamamos como se fossem obrigados a cuidar de nossos filhos e de nós mesmos indiretamente.
O que percebo nessas mães reclamonas e nesses pais brigões de porta de escola é um pedido de ajuda. Uma forma indireta de dizer que as coisas não andam nada bem em casa. A culpa diante do problema do filho é esvaziada ao colocar o problema como consequência da incapacidade do professor que não foi bom o bastante. Coitado(a) dos(as) professores(as), viraram psicanalistas também. Só faltam serem governantes. Isso é um trabalho para a Santa Professorinha ou para o Super-Professor-herói!

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