quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sobre o amor e o que está além disso

Passado o dia dos namorados, vamos conversar brevemente sobre o amor. O amor é uma criação humana, uma invenção demasiadamente humana. Não se engane, pois não nascemos com o dom mágico de amar.
Sem o amor não haveria a vida em civilização, não haveria amizade, namoro e nem mesmo o casamento. Além do mais, o amor nos atinge em um período estrutural de nossa personalidade, nos fazendo assim, seres sociais, diferente dos animais.
Muitos questionarão: mas os animais também se amam! O fato de formarem bandos ou viverem em conjunto não nos diz que se amam. É uma necessidade de sobrevivência, pura e simplesmente isso. O cachorrinho não ama sua cadela. É uma questão de predisposição do instinto. As grandes organizações de animais como as abelhas e formigas não se fundam a partir do amor entre si, mas do instinto de sobrevivência.
Não nascemos com capacidades de sobrevivência ou predisposições inatas que nos garantiriam sobressaírmos no mundo. Somos dependentes do outro, deste grande Outro que já nos esperava antes de nascermos (mamãe, papai, titia, vovó, vovô, irmão). Se não fôssemos acolhidos no nascimento, morreríamos, diferentemente do jacaré, por exemplo, que já faz coisas impressionantes nos primeiros minutos de vida. O ser humano é prematuro no nascimento e não possui nenhuma capacidade autônoma.
Mas o amor falha, e é fundamental que seja assim. A graça do namoro, dos relacionamentos é exatamente esta. Ou seja, nos furos e nos desencontros dos relacionamentos que a vida se torna prazerosa e permeada de desejo. Amar é assumir que precisamos do outro, é assumir que sentimos falta e somos incompletos, mas é fazer da falta uma causa de desejo, e não exigir do(a) parceiro(a) preencher e tamponar o buraco deixado pelo grande Outro do período infantil. Esta exigência cega que muitos colocam nos seus relacionamentos está próxima do amor doentio.
Por que será que nem todos conseguem amar, conseguem suportar os vazios? Poderíamos cair no dito popular de que você colhe o que planta, ou que se não foi amado não conseguirá amar. Percebo no trabalho diário que isso procede, mas tem algo que se passa além deste ponto de como a criança foi criada e não podemos nos fixar nisso. Faz uma diferença sim para a criança o modo como foi favorecido a ela um respaldo afetivo, mas a pessoa é responsável por suas escolhas e modos de vida. Mesmo os pais mais amorosos deixarão lacunas e vazios. Buracos cruciais para a criança aprender a lidar e se desenvolver. Vazios que serão projetados e reeditados nos caminhos das escolhas amorosas. O que cada um fará da falha e dos buracos deixados ao longo da constituição psíquica é problema e responsabilidade de cada um. O que cada um vai fazer de seu afeto e como vai direcionar seu modo de amar é de sua exclusiva responsabilidade.
O que fazer das lacunas deixadas? Como lidar com os vazios? Esse é o grande desafio a ser enfrentado por cada pessoa, e de quebra, por cada casal na sua aventura de amar.

2 comentários:

  1. mais e mt triste quando deixamos de acreditar no amor.pois nos sentimos com um vazio tao grande no peito uma angustia ensuportavel.sera que voltarei a amar novamente?

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