Pais
protetores
Nenhum
pai deseja perigo para seus filhos. Porém o risco de proteger excessivamente
pode se transformar numa dificuldade para ambos os lados, ocasionando falta de
compreensão e atrapalhando o desenvolvimento das crianças. O OBSERVADOR conversou
com o psicanalista Thales Siqueira de Carvalho
A criança, junto com seu pai, coberta de roupas da
cabeça aos pés, vai fazer uma pequena visita a seus avós. Durante o percurso, a
viagem é paralisada de quinze em quinze minutos, para que o pai verifique se
seu garotinho está limpo, como faz sempre. Chegando à casa dos avós, não
permite que a criança engatinhe no chão. Brincar somente no tapete, também não.
Satisfeito, o pai acha que, cuidando desta maneira,
está fazendo com que seu pimpolho fique longe de todas as ameaças. A verdade é
que, quanto mais zelo tem, mais receio de que o perigo possa acontecer. Dessa
forma, pai e filho vão se acostumando e, sem notar, os responsáveis passam a
proteger demais seus filhos deixando-os isolados. E se seguirem com isso, futuramente,
o seu filho terá de conviver com crianças, mas sem nenhuma preparação para
encarar o mundo.
Entre obrigação natural de dar proteção às crianças
e os exageros da proteção, vários pais têm dificuldades em colocar seus
próprios limites. Aos poucos, o que era comum, como não deixar que a criança
fique brincando na areia do parque onde muitos gatos e cachorros passam, se
torna uma ação radical de nem levar o filho ao chão.
Assim, até chegar à adolescência e mesmo quando
adulto, os pais colocam uma difícil relação com seus filhos, que ocasiona
incompreensão dos dois lados e atrapalha a autoconfiança dos pequenos. “Meus
pais sempre retiraram as dificuldades que poderiam surgir para mim e me
facilitavam as coisas. O interessante é que faziam isto para fazer cobrança
depois. Eu compreendo a intenção deles, que é boa, mas isso atualmente me traz
sequelas horrorosas. Não consigo lutar sozinho pelas coisas e correr atrás das
minhas metas. Fui muito mimado”. Relata um jovem profissional liberal.
Este é um comportamento dos pais que dão muita
proteção aos filhos. O objetivo, como disse o jovem, é ajudar só que, terminam
criando uma relação de dependência e dificuldade para se desenvolver. O
psicanalista Thales Siqueira de Carvalho, é Especialista em Teoria Psicanalítica
e Mestre em Investigações Clínicas Psicanalíticas. Há 8 anos atende em seu
consultório em Pedro Leopoldo-MG e Belo Horizonte-MG. Ele comenta a realidade
de superproteção que se referiu o jovem: “Na verdade, a superproteção de um pai ou de
uma mãe revela a insegurança dos pais e não do filho. Quando um comportamento
ou estilo de vida é perpetuado pelas gerações, os filhos tendem a repetir os
pais no futuro. No caso, provavelmente, esse jeito do pai para com o filho têm
suas raízes na maneira como este pai foi criado em sua infância. Não é por
acaso que se comporta assim com o filho e os motivos disso podem ser tratados
em análise, para que um destino menos angustiante seja dado a esse conflito”.
Muitos pais abdicam totalmente da proteção. Esta
seria uma boa conduta para deixar que a criança caminhe com suas próprias
pernas? Thales responde: “proteção demais ou a ausência total dela dá na mesma, ou
seja, em ambas as situações o filho crescerá de forma insegura e sem conseguir
lidar sozinho com os desafios da vida. É fundamental que o filho sinta que pode
contar com os pais, mas um poder contar quando precisar e não o tempo todo e de
forma esmagadora. Exercer a função paterna é muitas vezes fazer uma presença
pontual e não sufocante. É preciso saber que há um tempo para o filho deixar
aberturas para que os pais entrem, pois também vai querer se virar sozinho em
determinados momentos”.
O que se observa é que
em diversos momentos, é mais fácil interferir para solucionar um problema do
que deixar que o filho o avalie e mostre suas condições de resolvê-lo. Como
esta atitude pode interferir na formação da personalidade da criança? “a personalidade se forma ao longo dos
primeiros anos de vida, e uma criança crescer em um meio em que os pais resolvam
tudo por ela acaba gerando um funcionamento psíquico de dependência extrema, de
modo que a criança, no futuro vá repetir ocasiões em que isso novamente venha à
tona, ou seja, provavelmente vai buscar se colocar em situações em que precise
sempre de alguém para resolver as coisas por ela, seja no trabalho, escola e
relacionamentos amorosos. Nós passamos a vida repetindo inconscientemente uma
tentativa de revivermos aquelas relações afetivas infantis para com os pais,
mesmo que desprazerosas e causadoras de angústia”.
É fundamental para os pais descobrir que a forma de
levar a vida é baseada no equilíbrio entre colocar as mãos e regressar, para
deixar que as crianças conduzam realmente as suas vidas. Sem isto, não terá
valor a importância de decidir, de reconhecer suas possibilidades e também seus
limites. Ajudar os filhos a crescer: esta é uma prova de amor realmente. Thales
ainda complementa: “É preciso alguém para realizar a função
paterna, não o tempo todo, mas de forma consistente no tempo que for preciso. Ser
pai e mãe é inclusive saber se fazer faltar para o filho. Pois é a partir da
falta que um filho se movimenta e cresce, mas isso não pode ser uma falta
completa, pois aí teríamos a devastação”.
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