Em vida, deparamos sempre com algo que não sabemos ao certo dizer. Ao experimentarmos isso que não sabemos de onde vem e nem mesmo como nos afetará, sentimos uma dor... porém diferente das que estamos habituados a sentir, pois não a vemos e somente sentimos.
Esta dor não vem de um corte na pele, de uma torção das articulações, e nem de uma pancada física. É uma ferida, aberta e de difícil cicatrização. São os buracos da alma inerentes a todo ser humano. Vazios de sentido, e sem motivos aparentes e claros, somos invadidos por esta estranheza, muitas vezes chamada de angústia, ansiedade, depressão... mas que a rigor não tem palavra certa para definir.
Freud em 1919 deu um contorno para esse vazio que nos assola, e propôs o termo “estranho” para tentar nomear o insuportável que surge no psiquismo. Freud nos diz que o “estranho” é algo assustador e muito familiar ao mesmo tempo. É algo ambíguo, pois, da mesma forma que parece ser algo externo que nos invade independente de nossa vontade, é bem íntimo e particular. A sensação é tão real que só quem sente sabe. E por falar em saber, alguém sabe o que fazer com isso?
Alguns tentam, dão receitas e conselhos, e é bom que façam pelo menos isso. Mas outro saber sobre a dor da alma pode ser construído, caso a própria pessoa se coloque a entender-se e a se buscar. Não é fácil voltar-se para si mesmo, e tentar isso sozinho acredito ser uma tarefa dificílima.
Temos palavras para que? Para nos calarmos ou para falar do que sentimos? Fale! Bem ou mal, fale por ti. A nossa capacidade de falar, pensar, articular e criar se mostra como um recurso e uma saída nos momentos dessa tal dor.
A nossa saída diante daquilo que sentimos por dentro é colocar para fora. As palavras estão aí para isso, as artes e os trabalhos prazerosos também. Existem outros modos disso sair, mas sabemos que são mais grosseiros e custam caro ao corpo.
Poucos conseguem usar muito bem a capacidade que nos difere de qualquer outro ser no mundo: o fato de falarmos, criarmos e termos recursos simbólicos e de linguagem. Os artistas tentam contornar seus vazios pela via das artes, algumas pessoas através de um trabalho satisfatório, outros procuram ajuda psicológica.
Mas será que isso adianta? A dúvida disso só existe para aquele que resiste em aceitar que suas palavras têm valor e peso, e por isso mesmo tratam do corpo, da alma, do ser... logo, da vida.
Em outro artigo que escrevi e publiquei no Jornal Observador, vimos que a angústia traz consigo certos estados e alterações como, por exemplo, desespero, náusea e abafamento. Vimos também que a angústia é o único afeto que não engana, e que também surge em nós quando as experiências da vida não cabem nas palavras. É quando algo escapa à explicação. É quando estamos entregues à pura sensação, pesada e real!
Nenhum comentário:
Postar um comentário