terça-feira, 26 de abril de 2011

Dor da alma, dor estranha, dor real

Em vida, deparamos sempre com algo que não sabemos ao certo dizer. Ao experimentarmos isso que não sabemos de onde vem e nem mesmo como nos afetará, sentimos uma dor... porém diferente das que estamos habituados a sentir, pois não a vemos e somente sentimos.

Esta dor não vem de um corte na pele, de uma torção das articulações, e nem de uma pancada física. É uma ferida, aberta e de difícil cicatrização. São os buracos da alma inerentes a todo ser humano.  Vazios de sentido, e sem motivos aparentes e claros, somos invadidos por esta estranheza, muitas vezes chamada de angústia, ansiedade, depressão... mas que a rigor não tem palavra certa para definir.
Freud em 1919 deu um contorno para esse vazio que nos assola, e propôs o termo “estranho” para tentar nomear o insuportável que surge no psiquismo. Freud nos diz que o “estranho” é algo assustador e muito familiar ao mesmo tempo. É algo ambíguo, pois, da mesma forma que parece ser algo externo que nos invade independente de nossa vontade, é bem íntimo e particular. A sensação é tão real que só quem sente sabe. E por falar em saber, alguém sabe o que fazer com isso?
Alguns tentam, dão receitas e conselhos, e é bom que façam pelo menos isso. Mas outro saber sobre a dor da alma pode ser construído, caso a própria pessoa se coloque a entender-se e a se buscar. Não é fácil voltar-se para si mesmo, e tentar isso sozinho acredito ser uma tarefa dificílima.
Temos palavras para que? Para nos calarmos ou para falar do que sentimos? Fale! Bem ou mal, fale por ti. A nossa capacidade de falar, pensar, articular e criar se mostra como um recurso e uma saída nos momentos dessa tal dor.
A nossa saída diante daquilo que sentimos por dentro é colocar para fora. As palavras estão aí para isso, as artes e os trabalhos prazerosos também. Existem outros modos disso sair, mas sabemos que são mais grosseiros e custam caro ao corpo.
Poucos conseguem usar muito bem a capacidade que nos difere de qualquer outro ser no mundo: o fato de falarmos, criarmos e termos recursos simbólicos e de linguagem. Os artistas tentam contornar seus vazios pela via das artes, algumas pessoas através de um trabalho satisfatório, outros procuram ajuda psicológica.
Mas será que isso adianta? A dúvida disso só existe para aquele que resiste em aceitar que suas palavras têm valor e peso, e por isso mesmo tratam do corpo, da alma, do ser... logo, da vida.
Em outro artigo que escrevi e publiquei no Jornal Observador, vimos que a angústia traz consigo certos estados e alterações como, por exemplo, desespero, náusea e abafamento. Vimos também que a angústia é o único afeto que não engana, e que também surge em nós quando as experiências da vida não cabem nas palavras. É quando algo escapa à explicação. É quando estamos entregues à pura sensação, pesada e real!

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