terça-feira, 26 de abril de 2011

O arco da vida, a flecha da morte

O que fazer do nascer e do morrer? Há como poupar o psiquismo do buraco que o nascimento deixou e do não saber que a morte causa?

O fato de sermos seres de linguagem nos coloca diferentes de qualquer outra coisa no mundo. É por conta da palavra, da capacidade de falar que nosso psiquismo tornou-se um aparelho avançado e organizado. A única forma de assimilarmos as experiências da vida é através do falar, das expressões, pensamentos e memórias. Tudo isso só é possível graças à linguagem.
Porém, a palavra tem seus limites, e os nossos registros no aparelho psíquico não totalizam as experiências em si, pois já são traduções em linguagem do real experienciado e não propriamente o fato. Há sempre uma perda de significados nessa passagem da experiência crua para o registro no inconsciente.
Dentre todos as experiências humanas, podemos identificar duas impossíveis de serem significadas. Na primeira a linguagem ainda não existe, e na outra ela já deixou de existir. Se não há linguagem não há estruturação psíquica capaz de memorizar, portanto, fatos que, no inconsciente não possuirão registro: o nascer e o morrer.
Quanto ao nascimento, só posteriormente será possível dar conta dessa marca, dessa experiência não registrada. Só depois, ao longo do crescimento, ao adquirir a linguagem, que tentaremos contornar esse problema. Um buraco que dia-a-dia tentamos significar, mas que para a vida toda carregaremos.
Já, da morte... O que falar?
A morte é a questão que atravessa a existência humana e que ninguém consegue dizer exatamente. Especula-se, fantasia-se, imagina-se... Mas ninguém a esgota.
O vazio, como vimos mais acima, esteve no passado, na origem. Como vimos agora, estará também no futuro. E é o que mais atormenta, no presente, a vida inconsciente do Homem.
Entre o vazio do nascer e do morrer, somos assim tão livres para criar algo diferente? Podemos contornar o buraco ao invés de nos afundarmos nele?
Alguns conseguem saídas dessa miserável tristeza neurótica e adiam a tendência de irem ao encontro da morte. Em outros, de forma sutil ou escancarada, esse destino trágico é colocado em cena com um certo acordo.
Mas o que será que faz a diferença?
Está para cada um a chance de, entre os dois pontos, traçar fatidicamente a menor distância (reta), ou produzir curvas e percursos diversos. Vive-se como a flecha e vai direto ao alvo ou se constrói sabiamente o arco da vida.
Mas o que será que faz a diferença?

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